Por Flávio Lúcio
A decisão do desembargador Ricardo Vital, do TJPB de determinar a execução da prisão temporária do ex-governador Ricardo Coutinho não causou surpresa, apesar do choque que inevitavelmente um ato como esses provoca na sociedade: Ricardo Coutinho ainda é a maior liderança política da Paraíba, e continuará sendo até que não reste margem para dúvida de que ele é o responsável pelo que o acusam.
Em março de 2019 nós já antecipávamos (leia aqui) que o principal alvo da Operação Calvário era o ex-governador – quem acompanhou de perto o modus operandi da irmã mais velha da Calvário, a Lava Jato, sabia perfeitamente o que estava em curso e no que ela iria dar.
Aliás, mesmo sem ser formalmente investigado, RC já era tratado pelo jornalismo de esgoto como se já estivesse condenado, faltando apenas o ato formal da prisão. Eles mesmos escolhiam o réu, determinavam a acusação, eles mesmos julgavam, eles mesmos sentenciavam. O Gaeco e a Justiça eram meros instrumentos de suas vinganças mesquinhas. Logo eles…
Destaco três questões que, de início, merecem aqui serem mencionadas.
Primeiro, a longa peça em que o desembargador Ricardo Vital fundamenta sua decisão precisa ser estudada e analisada com cuidado. Mas, chama a atenção que, pelo menos na parte inicial, o desembargador quase transcreve in totum a narrativa do Ministério Público, o órgão acusador, tanto que é recorrente o uso de aspas no texto, apenas com inserções de “ganchos” para passar de um tema a outro.
Quando o desembargador não transcreve os termos usados pelo Ministério Público, são recorrentes expressões nos trechos de sua autoria como, por exemplo, “sugestiva organização criminosa” (pág. 4), “hipotético organismo criminoso”, “suposta organização criminosa”(pag. 9), “supostos recursos ilícitos” (pág. 10), o que, claro, mostra algum cuidado em tratar a descrição dos fatos ali narrados como suspeitas e indícios, e não como antecipação de julgamento.
Cuidados que são deixados de lado quando o desembargador autoriza o pedido de prisão temporária feito pelo Ministério Público, porque, como sabemos todos, isso funciona quase como uma antecipação de julgamento na opinião pública, principalmente porque boa parte dos envolvidos são políticos. O efeito para muitos deles será de uma sentença de morte política, porque os danos à imagem de quem é humilhado por uma prisão são irreversíveis, ou duram por muito tempo.
Mais questionável ainda é a restrição disso, entre os políticos, às pessoas mais próximas de Ricardo Coutinho, nomeadamente as deputadas Cida Ramos e Estela Bezerra, e a prefeita do Conde, Márcia Lucena, todas com uma trajetória de vida na esquerda. Obra do acaso? A história responderá, mesmo que tardiamente.
Por fim e por enquanto, o que assistimos agora na Paraíba é mais um capítulo nesse enredo ainda em desenvolvimento, cujo epílogo é a morte da política. Depois de hoje, a política morreu um pouco mais.
No lugar dela, o vazio de um mundo onde as leis não existem porque são tão fugazes como cada circunstância, a luta de todos contra todos comandada pelos interesses mesquinhos de cada corporação poderosa, e, no fim do túnel, a escuridão do fascismo.
Muitos vão rir. Até que a polícia bata em suas portas, às seis da manhã
6 Comentários
A Aguia voará alto eu creio. Meu eterno governador
O interessante, pra não dizer cômico, é que a Paraíba, por décadas, passou pelas mãos de coronéis da política, os quais guiaram o Estado com a política do atraso e da corrupção. A população presenciou, inclusive, atos escandalosos, como arremesso de dinheiro pela janela(sem repercussão alguma na grande mídia). Mas agora, após um século de “pura honestidade e lisura”(Wilson Braga, zé Maranhão, Cunha Lima Pai, Cunha Lima Filho, Etc, misteriosamente, o Gaeco, MP, a justiça decidem agir e lutar contra a corrupção!! Com apenas 8 anos de Ricardo, as autoridades decidem “agir contra corrupção como nunca”!. Logo às vésperas da eleição pra prefeito!!
A cada operação o estado democrático de direto é enterrado!
O sensacionalismo que estas operações trazem condenam antecipadamente qualquer um. Ainda mais um RC, cujos opositores não conseguem derrota-lo nas urnas. Com isso essa condenação antecipada para estes é um elixir. Salve Ricardo Coutinho e que tenha o direito da plena defesa e possa trazer a luz de todos sua inocência.
Podem bater mas continuo com o mago,nao existe condenação antecipada e tudo ficará esclarecido e deixem o mago trabalhar!
Sensacionalismo, brincadeira, as gravações não dizem nada, as delações , não formaram nada. Enfim é tudo inverídico as informações do MP e do Desembargador