Miguezim de Princesa
I
No Governo Bolsonaro,
Fizeram uma licitação
Para socorrer os índios
Que passavam privação:
Compraram arroz e farinha,
Óleo de soja e feijão.
II
Alguém lembrou na Funai
De dentro da estrutura:
– Tem arroz, óleo e feijão,
Tem farinha e rapadura,
Jerimum e macarrão,
Mas tá faltando a mistura.
III
– Tá na moda asa de frango! -,
Disse um assessor mais moço.
Um que sentava à direita
Sugeriu sopa de osso,
E outro, lá do Planalto,
Achou melhor ser pescoço.
IV
– Pois o pescoço do frango
É bem rico em proteína,
Cheio de gordura saudável
E muita condoitrina,
Uns negócios pra chupar
E também glucosamina.
V
– Levanta a moral do índio,
Que faz filho em pé na rede.
Traz o caneco que a índia
Está morrendo de sede.
É hoje que a gente arranca
O samboque da parede!
VI
E assim chegaram ao consenso
No Governo Federal,
A empresa foi dizendo:
– O índio não passa mal,
Duzentos e sessenta o quilo
De pescoço especial.
VII
No fim até dispensaram
A tal da licitação,
No mesmo dia encheram
Uma fila de caminhão
Carregado de pescoço
Pra levar pro Maranhão.
VIII
As estradas se encheram
De caminhão de pescoço
Indo no rumo do Norte
Pra transformar em colosso
A vida do povo indígena,
Mas lá só chegou o osso.
Sem Comentários