Já fui rico e já fui pobre, por sinal mais de uma vez. Sei exatamente do que estou falando. Aliás, acredito que pouquíssimas pessoas tenham esse duvidoso privilégio. Foi assim que descobri que pobre é invisível. Me dei conta da invisibilidade dos pobres quando meus pais, que eram milionários, perderam tudo. Da minha parte levaram dois automóveis zero; um Camaro e um Puma conversível mais uma enorme motocicleta, afora outros mimos.
Tive que terminar o curso de Direito para defender toda a família na centena de processos que resultaram daquela situação, bem assim inventei uma tal bolsa de telefones para sustentar meus filhos, complementando a renda com alguns bicos, entre eles tocando piano nos fins de semana. Eu não tinha carro para me deslocar até a Universidade, a Telpa (onde intermediava os negócios de linhas telefônicas) e outros lugares. A grana só dava para o ônibus, e muitas das vezes em que eu estava nos pontos esperando o coletivo, vi passarem os antigos amigos em seus carrões. Eu sabia que eles me viam, mas faziam de conta que nem tinham olhado e seguiam em frente. Muitos anos depois, quando perdi aquele superpoder da invisibilidade, característica dos pobres, um dos amigos me confessou que realmente me via esperando o ônibus mas não parava com medo de me constranger. É cada uma…
A verdade é que ninguém olha na cara do gari, da empregada doméstica, do vendedor de rua. Uma favela é notada como exemplo de pobreza, mas o pobre favelado que mora nela não tem cara, é ninguém enchendo a rua de pernas.
No entanto descobri que os pobres têm um humor excelente. Riem de si mesmos, o que é muito inteligente. Os ricos não sabem fazer isso. São chatos.
Francisco, que continua pobre e é meu amigo até hoje, tem tiradas ótimas. Um dia me disse que na casa dele só se fazia café mais de uma vez por dia quando tinha velório. Outra dele: “- Doutor, só vai andar na minha Ferrari quem me ajudar a roubar ela”.
Desses amigos também é feita a minha vida hoje em dia. Ajudo no possível e olho nos olhos de todos os pobres com quem cruzo.
A lição? Para conhecer uma pessoa veja como ela trata os mais humildes.
Na verdade, meu ideal é um dia ser rico conservando o humor de pobre.
9 Comentários
Disse tudo
Marquinho, na verdade é VOLTAR a ser rico conservando o humor de pobre.
O meu comentario, “parabéns” pelo tema abordado. Rico é chato mesmo! Felizmente não gosto de rico e menos ainda de poder. Pode? Tenho alguns amigos que me chamam de doido pelo fato de ter esse comportamento..
Se esse relato for mesmo de todo sincero, juro, me emocionei!
Eu me lembro desse rapaz na faculdade. Não sei se conseguiu ficar rico de novo, mas humor ele tem de sobra. No item riqueza ele é autoridade no assunto. Tem conhecimento de cátedra. Descobri agora, Tião, que nós, eu e tu, somos dois bucetas, porque nunca fomos ricos, como foi um dia o dono do Gran Pires, esse monstro da lagoa. Para falar com tanta autoridade assim é preciso ter vivido a experiência, conhecido os dois lados. E fim de papo.
Parabens colega marcos pires, aqui em campina grande e do nesmo jeito.. felizes os humildes de coracao…fazendo o bem sempre
Para quem foi rico, exibindo sua fortuna na Av. Epitácio Pessoa, através de triciclo e carros do ano, frequentando a alta “societ” pessoense e carioca, realmente faz a diferença residindo hoje num minúsculo flat no Cabo Branco e sozinho. Mas, tem seu valor como ser humano, pai, cristão, profissional e amigo. Aliás, tem pouquíssimos AMIGOS. O que tem hoje são mais colegas e companheiros de caminhadas matinais. Gosto de você, como você é e se apresenta.
Marcos, você é dos bons.
Com qualquer um acontece altos e baixos.
No meu caso particular, você nunca deixou de me cumprimentar sempre com muita alegria.
Você é o cara.
Parabens.
Tião, CIÇO é da Impoeira, de Santa Rosa ou do Poço Doce ?