1BERTO DE ALMEIDA
A título de prefácio: agorinha, nesse exato instante, lendo o meu Blog preferido, este de Tião Lucena, amigo de longas datas, soube que o bom Paulo Mariano trocou de roupa e se mudou para outra cidade. Acreditem. Senti como a partida de um irmão. Afinal, a máxima de que “amigo é um irmão que pode escolher”, é verdadeira. O escolhi. Escrever sobre a mudança de Paulo Mariano? Não achei conveniente. Não teria muito para dizer, ou teria demais. Assim, revendo as minhas mal-escritas, assim lembrando que um dia em Paulo eu falei, encontrei essas que agora seguem um tanto triste. Um muito. Era assim que eu via Paulo. É assim que continuarei vendo.
Requiescat in pace, Paulo.
“Existem alguns sujeitos que desparecem apenas para que os amigos dele sintam dele saudades. A sua – dele – falta. Amigos assim eu tenho alguns. Poucos. Esses eu conto no dedos das mãos. Não passa disso. Um, dois, três… Conto. Sem dúvidas. É o limite.
Entre esses está esse sujeito aí que parece ter saído de um filme de Harry Potter, jeitão de professor de crianças, especialista em Poções Mágicas e Feitiçarias. Sujeito dono de muitos bons predicados. Todos merecidos. Os melhores. Escritor, jornalista e historiador. Amigo que todos gostariam de ter. Pessoa. Coisa mais maior de grande. Diria o Gonzaguinha. Pois que na sua riqueza revoluciona e ensina.
Esse “personagem” tem histórias para contar. Muitas. Escutei algumas. Li outras. A curva dos 80? Ah, essa ele pegou como se na metade dela ainda estivesse. Pensa muito e fala pouco. As rases são curtas. Nelas, porém, tudo o que passa nesta vida. Tudo que passou. Ele conta sem nunca encompridar o contado. O que vivera. Vive! Conta sem precisar contar as palavras que de sua boca saem. Um amigo do silêncio. Pausa. Também. Ele tem muito disso.
Livre pensa a dor. Pensador A liberdade de pensar. Ah, liberdade! Tudo conquista! Ele é um craque nesse campo em que nunca se curvou, E, se aconteceu, fora apenas para apanhar algumas palavras que se perderam no caminho do pensamento. Caíram. A cabeça dele está sempre erguida. Fita os Andes. Anda assim. Apesar da idade. Sabe tudo o que acontece no mundo. Pois nunca tira o rosto da janela. Apesar das porradas. Também sou assim. Por isso trago o rosto marcado.
Pela vez dele, a sua, por assim viver, vive sem medo de ser feliz. Sente as porradas que da vida levou. A gente sente. Sabe delas como poucos. Mas não foi a vida. Nada de suavizar. Nada de eufemismo. A vida é amiga sua e dessa arte que sabe fazer como poucos: pensar, viver. Mas não lhe fale de uma vida sem liberdade, nem lhe ensine o caminho. Paulo Mariano faz questão de morrer do próprio veneno. Se necessário. E eu também.
Suas histórias são aquelas que não precisam de moral para que sejam entendidas. Sentidas. O que passou e sofreu pouco conta. Sofrer? Esse não conta, mas tudo guarda. Vigilante. Sempre. Não é o tipo de viver posando de mártir. Nunca! Nem aquele de achar que o melhor é deixar tudo para trás. “Melhor deixar pra trás”. Por quê?! Não chora mais. Também nada a ver com aquela história de que “homem não chora”. Chora. Mas, chorar sem motivo, é um choro perdido.
Paulo Mariano sabe da importância do passado. O seu. Orgulha-se dele. Não do que tivera de passar para chegar até aqui de cabeça erguida. Passou. Hoje dirige a mais de oitenta sem medo de ser multado. Paulo conquistou o direito de dirigir a sua vida na velocidade desejada. Ele sabe.
O seu passado nada tem a ver com uma calça velha que não lhe serve mais. Essa – a calça – ele ainda usa. E faz questão de mostrar a todos no presente. O passado não é uma calça velha que não lhe serve mais. Serve! Paulo sabe a importância de se ter um passado. Ele o tem! Orgulha-se dele. Mesmo que seja um passado que não conseguiu mudar, fazê-lo diferente.
Mas, silencioso, aproveita o passado como lembrança. E s necessário o usará no presente. Tudo para que esse – o passado – nunca mais se repita. Paulo Mariano é assim, um sujeito que se curva mas não se quebra. Um baraúna. E, por mais que corra, nunca virará se passar dos 80. Paulo conquistou essa liberdade. A liberdade de viver sem o limite estabelecido pelos homens.
Por onde andará Paulo Mariano?!
Em tempo: texto escrito e publicado no Eu Plural (humbertodealmeida.com.br) em 03/11/2016
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