1 – O centro de João Pessoa meio que se acabou. Os comerciantes que tinham condições fugiram para a orla ou para a estrada de Cabedelo. Quem ficou, ficou por não ter para onde ir. E o centro de João Pessoa já foi o Ó do Borogodó. Seus bares atraíam a boemia da cidade. Eu os alcancei, mesmo tendo chegado depois dos eternos boêmios. Eu, Chico Pinto, Toinho Vicente, Biu Ramos, Edmilson Lucena, Miguelzinho, Pedro Moreira, Jackson Bandeira, Júlio Santana, Djalma Góes, Paulo Santos, o grande Carlitos, Kalecina…
2 – Começava pela Lagoa, onde a Flor da Paraíba e o Pietros se rivalizavam. Eu preferia a Flor da Paraíba por ser mais bar. O Pietros misturava as coisas, era bar e lanchonete, ou melhor dizendo, restaurante e isso quebrava um pouco do encanto que a gente encontra no bar.
3 – Subindo a ladeira da Padre Meira, entrava-se na Rua 13 de Maio para uma visita ao Bar da Fava de Efraim. A fava de Efraim tinha gosto de fava, sabor de fava, quem comia repetia, o bucho jamais enchia, sempre sobrava uma vaguinha para o quero mais.
4 – O Bar da API, nos áureos tempos de Moura, era o ponto de parada dos jornalistas.Quem tinha dinheiro, bebia. Quem não tinha, bebia fiado. Moura confiava na turma, jamais levou um cano, os velhacos temiam a cobrança pública que ele não se negava em fazer, caso fosse necessário.
5 – Perto da API, naquele beco espremido pelo prédio da UFPB entre a Visconde de Pelotas e a Duque de Caxias, batíamos ponto na Cantina do Camões. Sua especialidade era língua ao molho de madeira que comíamos com fatias de pão francês. Camões era um velho alegre, de bem com a vida.
6 – Na esquina do antigo Forum, na Rodrigues de Aquino, criaram um bar com nome estrangeiro: Woodstock. Pertencia a uns branquelos de Jaguaribe. Virou moda. Recebia uma seleta plateia todo santo dia e toda santa noite. Até acontecer a briga à boca da noite de um sábado quente. Estava eu com Chico Pinto, Jackson Bandeira, Júlio Santana, Goes e alguns outros numa das mesas. Pinto levantou-se e foi cobrar um livro que emprestara a um moço ao lado. Estabeleceu-se a discussão e dali partiu-se para o quebra-quebra. Tentei contemporizar e o sujeito que brigava com Pinto deu-me uma joelhada no ovo esquerdo, que fui ao outro mundo e voltei.Danei-lhe a mão no pé do ouvido. Veio de lá Julio Santana com uma cadeira de plástico e a quebrou nas costas de um inimigo. Góes, todo assanhado, exibia uma dentadura que arrancara da boca de um adversário durante a refrega. E o branquelo, dono do bar, só gemendo, pedindo clemência.
7 – A Bambu não alcancei, mas cheguei a tomar umas e outras no Bar do Grego, que ficava na descida para a Lagoa, na Rua Barão do Abihay. Segundo Biu Ramos, o grego era um senhor de boa idade, casado com uma animada paraibana. Dizia Biu que os fregueses eram atraídos ao bar pela bebida, pelo tira-gosto e pelo sorriso da “grega”.
8 – De bares em bares chegamos ao de Seu João, no Grande Ponto, instalado no Cordão Encarnado, por detrás da Embratel, local dos penduras dos jornalistas. E chegamos para lembrar aquele acontecido com o jornalista Franto Júnior. Ele entrou no banheiro levando uma massaroca de jornais, demorou um bocadão, depois saiu todo ensacado, a camisa impecavelmente enterrada na calça. Enquanto caminhava, porém, fez alguns movimentos com a perna manca, permitindo que a camisa ensacada escapulisse na parte traseira, exibindo, detalhadamente, um círculo de bosta em formato de cu.
9 – Muita coisa aconteceu ali no Grande Ponto de Seu João.Namoros começaram, casamentos foram desfeitos, brigas homéricas ficaram nos anais da crônica policial. Mas aquilo de que Seu João não gostava mesmo era dos velhacos que o terminaram levando à falência. Contam que na casa dele existe, ainda hoje, um caderno de volumoso tamanho, cheio, de cabo a rabo, com os nomes e as dívidas de jornalistas.
10 – Abmael Morais chegou ao Drivin da Epitácio Pessoa trazendo a tiracolo os lisos Chico Pinto, Jackson Bandeira e eu. O pendura dele já estava nas nuvens e Abmael, no seu Gin com tônica, já ia na décima dose, quando o garçom o interpelou: “Jornalista, e o pendura?” Abmael o olhou com aquele ar superior, determinando: “Traga os meus vales”. Animado, o moço foi ao bar e voltou com uma massaroca de papéis. Abmael olhou um por um, mandou o garçom somar. Feita a soma, pediu o total, assinou embaixo e ordenou: “Agora está tudo atualizado. Leve isso e bote embaixo da conta de hoje.”
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Biu da Câmara, Genivaldo Fausto, Vavá da Luz, Pedro Macedo Marinho, Zeca Ricardo Porto, Márcio Murilo da Cunha Ramos, João Machado de Sousa, Martinho Lisboa, Teocrito Leal, Josinaldo Malaquias, Antonio David Diniz, Abelardinho Jurema, Rubens Nóbrega, Agnaldo Almeida, Frutuoso Chaves, João Costa, Zé de Souza, Ramalho Leite e Carlos Candeia.
12 – Chico Pinto, ganhando pouco e passando fome na Universidade, conseguiu fazer amizade com o Capelão da PM,Eurivaldo Caldas, de quem recebeu autorização para comer de graça no rancho dos soldados.
Sabendo da novidade, Armando Nóbrega, seu colega de O Norte e em igual pindaíba, tanto insistiu que convenceu Pinto a levá-lo ao capelão para ser autorizado a, também, comer no rancho. Feitas as apresentações, o capelão concordou com a entrada de Armando na fila do bandeijão. E Armando, querendo agradar o padre, indagou-lhe com seu sorriso matreiro:
– Seu padre, quando é que o senhor vai virar papa?
Padre Eurivaldo botou os dois para fora da sala e, chamando o ordenança, determinou: “Se aparecerem para comer a boia de vocês, metam os dois na cadeia”.
2 Comentários
ESQUECEU DE ALGUEM, TIÃO?
EU. NUNCA DEXEI DE DELICIAR O FAMOSO ARRUMADINHO DE SEU JOÃO.
Caro Tião, inicialmente agradecer o abraço enviado hoje para a minha pessoa. Esses bares que você se referiu, conheci quase todos, tendo frequentado mais vezes a Bambu, cujo garçom era Ze Paulo, o Flor da Paraíba que tinha o simpático garcon Biuzinho e o Bar Du Grego do Senhor Lui e sua agradavel esposa, que infelizmente agora me foge o nome. Eu o falecido Neguinho Celio com o seu violão , o falecido Anselmo, China e outros colegas do Roger, íamos para o bar e cantávamos músicas da época de Renato e seus Blue Caps e outras do gênero e a esposa do Grego, gostava tanto da nossa amadora apresentação, que quase sempre nós presenteava com um litro de Rom Montilla e quatro Coca-Cola, ficando os tira-gostos por nossa conta. Pouca gente sabe, mas com a morte do Grego Lui, vítimado por um câncer no pulmão, sua esposa que ja não era tão jovem e cheia de filhos menores, deu a volta por cima e resolveu estudar, conseguindo dificilima aprovação no Curso de Medicina da UFPB e ao concluir com muitos sacrifícios o seu curso migrou nos Anos 80, junto com os filhos para o então novíssimo Estado de Rondônia, mais precisamente para uma pequena cidade do interior onde se tornou respeitada e querida pela população. Não sei se hoje é aposentada ou se já é falecida.