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Porque hoje é sábado

26 de fevereiro de 2022

1 – Hoje seria o sábado de Zé Pereira, não o Zé Pereira herói de Princesa, mas o Zé que animava o carnaval. “Viva Zé Pereira, viva Juvenal, viva Zé Pereira no dia do carnaval…”. E a turma enchia os clubes, as ruas, os becos e os descampados, dançando e sambando, bebendo e comendo, disposta a só voltar pra casa na quarta-feira. “Oh quarta-feira ingrata, chegou tão depressa, só pra contrariar.”

 

2 – Romeu de Avelar candidatou-se a deputado por Alagoas. Um desastre. Na seção em que votou com a mulher apareceu apenas um voto. “Mas Maria, nem você votou em mim?” E ela: “Querido, todo dia, no café da manhã, você me dizia que estava eleito. Para não desperdiçar  meu voto, votei no compadre Chiquinho.”

 

3 – Quando eu era menino, lá no sertão de Princesa, havia o “entrudo”. Era o mela mela, o molha molha, todo mundo se molhando e se sujando de talco. O tempo fez o povo ficar pobre e o talco foi substituído pela farinha de Maisena. Mas a animação continuou, porque o que animava não era o talco ou a água, era a cachaça. “Você pensa que cachaça é agua, cachaça não é água não, cachaça vem do alambique, e água vem do ribeirão…”

 

4 – Cassado pelos militares, na primeira leva de 64, Jânio passou
longas temporadas na Europa. Um dia, ia pela Champs Elysées,
em Paris, e um grupo de turistas brasileiros o viu. Um deles
perguntou: “Presidente, o senhor sabe quem eu sou?” Jânio
ficou uma fera e arregalou os olhos: “Ora, meu caro. Se você,
que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo?”. E
seguiu em frente.

 

5 – Pulando no tempo, já morando aqui em João Pessoa, enchi as vistas com o carnaval de rua. Alcancei os últimos dias do corso. Carros enfeitados percorriam as ruas do centro, as filas eram quilométricas, mocinhas lindas ostentando as suas belezas , a multidão jogando confetes e serpentinas e os mais ricos tomando porres de lança perfume.

 

6 – Dr. Dantinhas, ex-deputado
baiano, foi convidado para ser padrinho de casamento da filha de um
coronel, no interior. No dia de viajar, recebeu um telegrama urgente:
“Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. A menina morreu.”

 

7 – O Astrea se rivalizava com o Esporte Clube Cabo Branco na luta para ver quem fazia o melhor carnaval. O Cabo Branco, elitista, caprichava no luxo. O Astrea, mais povão, incendiava o povo. O frevo comia no centro e só terminava na quarta-feira. E era um fim apoteótico. A orquestra levava os foliões de clube afora até a Lagoa, todo mundo frevando e pedindo bis.

 

8 – Costa Porto era ministro de Café Filho, amigo dele, e quase nunca levava papéis para o presidente despachar.  

– Porto, por que tu trazes tão pouco despacho?  

– Café, no meu Ministério ou tenho problemas tão pequenos que eu mesmo resolvo, ou tão grandes que nem você resolve.  

Piada que corria nos meios políticos, na época da sucessão de Emilio Garrastazu Médici. Não estava fácil encontrar um militar que agradasse tanto a linha dura, que estava no poder, quanto a linha moderada, que, mesmo fora do poder, tinha certa influência.

Então, decidiram escolher o próximo presidente por computador, que, naquele tempo, ocupava quase uma sala inteira. Digitaram: “Queremos um militar da linha dura?” O computador replicou: “Encontrado”. “Queremos um general do Exército, com quatro estrelas”; o computador respondeu: “Achado”. “Queremos um general honesto”. O computador chacoalhou e, supostamente indeciso, disse: “Honesto? Não encontramos. Ernesto serve?”. Aí indicaram o general Ernesto Geisel.

9 – A pedido de Cícero Lima, que antes de ser criminalista dos bons, foi jornalista do batente, mostro a imagem de um dos intervalos do carnaval do Astrea. Desses que aí estão, Humberto Lira já foi embora, levado pela Covid. Os outros continuam no  batente, lutando pela sobrevivência e remoendo a saudade dos carnavais de outrora.

Eis que um dia os clubes fecharam as portas, inventaram as prévias e acabaram o carnaval propriamente dito. Ficou o dito pelo não dito, João Pessoa mergulhou no silêncio bem antes mesmo da pandemia.

 

10 – Teté voltava para casa, depois de uma farra onde tomou todas a que tinha direito, quando avistou um velório. Aproximou-se e viu a viúva se lamentando:

– Meu amor trabalhou tanto, deu tanto conforto a nós, e agora morre e vai morar num canto escuro, sem ar, sem luz, sem geladeira, sem televisão, sem banheiro para tomar banho, sem nada do que tinha aqui.

Aí Teté, tomando a palavra, protestou de lá da porta:

– Na minha casa mesmo não!”

 

11 – E agora lá se vão meus abraços carnavalescos para Augusto Toscano, Fernandinho Milanez, Tavinho Santos, Francisco das Chagas Oliveira, Josinaldo Malaquias, Carlos Candeia, Frutuoso Chaves, Chico Pinto, Jackson Bandeira, Marden Góes, Genésio de Sousa, João Batista Mororó, João Batista Simões, Osório Abath, Jacinto Medeiros, Gilvan Navarro e Inacinho Pedrosa.

 

12 – O candidato a vereador Lacrau percorria a zona rural de Boa Ventura e ao chegar na casa de um eleitor foi abordado por um cachorro grande, que latia alto. Precavendo-se, lacrau pendurou-se num pé de manga, até que o dono da casa apareceu e avisou:

– Tenha medo não, que o cachorro é capado.

E Lacrau, sem sair de onde estava:

– Eu num tô com medo dos ovos dele não. Eu tô com medo  é dos dentes.”

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1 Comentário

  • Reply CICERO DE LIMA E SOUZA 26 de fevereiro de 2022 at 16:37

    OBRIGADO PELA PUBLICAÇÃO DE NOSSA FOTO CARNAVELÉSCA, MAS DO FUNDO DO BAÚ, CADÊ FERNANDO WALLAC QUE INTEGRAVA A COMITIVA?

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