1 – Fiz planos, não nego. Sonhei de olhos abertos, tirei do baú aquela viagem sempre adiada por falta de recursos, quase antecipei a compra de presentes para minha amada e para a filharada,anunciei a compra do camarote para o São João de Bananeiras e comecei a trocar a cachaça pelo uísque 12 anos para acostumar as tripas.
2 – Assim que o homem do Governo informou que eu teria valores a receber do Banco Central, fiz igual ao meu amigo Luiz que comprou uma casa para pagar quando o sogro morresse e a casa da herança fosse vendida e dividida com os herdeiros, danei-me a comprar algodão na folha, fui a loja do Carneiro encomendar um carro novo, apalavrei o quadriciclo que me levaria a passeios inesquecíveis pela zona rural de Princesa, comecei a namorar o jet sky de Pata Choca e até pensei em convidar meu amigo Maguila para formarmos um conjunto igual ao de Zé de Minininha, eu comprando os instrumentos, é claro, para tocarmos nas tertúlias da Gruta e do Tabuleiro.
3 – Ontem, finalmente, chegou a grande oportunidade. A minha amiga K abriu o computador, fez minha ficha cadastral, colocou meus dados, exigiram uma foto, me enquadraram umas dez vezes na tela do celular, o amigo Rian foi chamado para ajudar no enquadramento e, no final, depois de todo o suspense do mundo, abriu-se a porta da esperança.
4 – E estava lá a minha sonhada fortuna, o dinheiro que me fez sonhar, planejar, antecipar gastos e gostos: 1 real e 3 centavos. Que eu resgatei e chegará em breve à minha conta bancária como está dito lá na tela do computador.
5 – E como eu gosto de matar a cobra e mostrar o pau, está aí o recibo, o comprovante, o papel passado pelo Banco Central do Brasil, a instituição que não mente nem consente a mentira dos seus clientes:
6 – Fazia um tempinho que eu não ia à Torre, o bairro mais simpático de João Pessoa, meu reduto de juventude, das minhas andanças boêmias ao lado de Elisafá Bá Pereira, de Genebaldo Avelar, de Doutora Eleika, de Joãozinho, de Manoelzinho, de Manduka e de Normando, de Lula, de Nevinha, de Fatão e de Betânia, do Bar de Raul, da vila de Dona Lídia, do Bandeirantes e da barraca de Zeca onde se bebia cachaça comendo couro de porco.
7 – E encontrei muita coisa mudada, dentre elas o Santiago fechado. Nem o estacionamento que guardava o meu carro e o de Zé Alan Abrantes existia mais. E pela imagem, não aconteceu agora. Havia lixo e folhas secas espalhadas pela rampa de acesso ao supermercado.
8 – Tenho dois livros prontos, mas, aqui pra nós, custa caro publicá-los e faze-lo com verbas do governo também é difícil, melhor dizendo, quase impossível. O primeiro chama-se “Perdição” e é um amontoado de contos e causos vividos numa cidade que tem esse nome e, no mapa, fica escondida lá nos longes do sertão. O outro é um resgate de coisas do cangaço, com perfis de cangaceiros famosos, a partir de Lampião, passando por Maria Bonita, por Dadá, por Corisco, por Meia Noite e assim por diante.
9 – Caso alguém se interesse em bancar as duas edições, estou à disposição.
10 – Tirado de um jornal de Itu, edição de 1904:
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Valter Paiva, Carlos Feitosa, Carlos Candeia, Arlindo Monteiro Filho, Yane Marinho, Gláucio Nóbrega, Sidney Oliveira, Diomar Pegado, Cícero Florentino Neto, Francisco Pinto, Italo e Gilson Kumamoto, Eirinha Kumamoto, Tereza Monteiro, Nominando Diniz Júnior, Nelia Maria, Zé Madeiro, Juarez Augusto e João Deon França.
12 – O velho Belo estava à porta da morte e Seu Cícero Bezerra, seu compadre, foi visitá-lo.
– Como está, cumpade Belo?
– Hoje tive uma melhorazinha, cumpade Cícero.
– É a miora da morte, cumpade Belo. Esse tá de “canço” quando pega o sujeito, só laiga no sumitéro.
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Retribuindo amplexos.