1 – Padre Maia, se vivo fosse, estaria proibido de pagar sua promessa anual a São João. É que as fogueiras estão proibidas em áreas urbanas da Paraíba e quem acender umazinha sequer, pagará multa de R$ 600 reais. Por isso ele ficaria em dívida para com o santo e certamente morreria de desgosto.
2 – Nas noites de São João, lá em Princesa, o bom velhinho saía às ruas logo que as fogueiras eram acesas e as contava, uma por uma, rua acima e rua abaixo. Começava pela Rua Nova, onde morava, descia pela Rua Grande até o fim da Avenida, subia pela Rua de Joaquim Mariano, dobrava na esquina de Bilica e fazia o percurso ida e volta pela Rua do Cancão. Dali seguia pela Rua do Ferreiro, rumava para a Rua do Cruzeiro via beco de Severino Barbosa, terminando a caminhada na Rua da Lapa onde moravam as putas, tão religiosas quanto as Filhas de Maria, já que no São João, pelo menos até a passagem de Padre Maia, estavam com os ferrolhos dos chibius devidamente lacrados.
3 – Vestia-se com elegância: calça branca de gabardine, paletó do mesmo tecido, calçava uma alpercata de rabicho e protegia a cabeça com um chapéu de abas curtas, de massa, cinza.
4 – E para não se perder na contagem, carregava num dos bolsos da calça centenas de pedrinhas, que transportava para o outro bolso à cada fogueira. No final do percurso, todas as pedrinhas haviam mudado de bolso.
5 – As fogueiras também serviam para o pessoal assar o milho de São João. Cecília Mandaú aproveitava as brasas para fazer café, que servia em cumbucas de plástico aos parentes que cercavam a fogueira para comer o milho assado com café preto.Depois, cada um acendia o seu cigarro pacaia, feito de fumo de rolo e devidamente enrolado em papel de seda.O fumaceiro cobria e a festa continuava.
6 – Ao redor das fogueiras os amigos e conhecidos se tornavam compadres. “Santo Antonio dormiu e São Pedro acordou, vamos ser compadres, que São João mandou”, eram, se não me falha a memória, as palavras que os futuros compadres pronunciavam, cada um do lado oposto da fogueira, ambos se dando as mãos.
7 – Numa noite de São João tornei-me compadre de Lourdes Branca,bela rapariga do cabaré de Estrela, com quem me consolava em crises de saudades. Pois a partir do compadrio ela nunca mais quis saber de mim. “Pode não, compadre, é pecado”, me respondia quando eu lhe implorava uns instantes de amor.
8 – Mas a festa não ficava só nisso. Depois das novenas rezadas por Frei Anastácio e cantadas por João Mandu e Odívia Maximiano, o fole roncava. No Cancão o forró era animado pelo fole de Luiz de Alfredo, com o acompanhamento ritimado do pandeiro de João de Né. Mané Tocador fazia a sua sanfona chorar nos salões do Cruzeiro. Na Rua Nova acontecia o baile junino dos seguidores de Aloysio Pereira. E na frente da Casa Grande de Seu Mano, num pavilhão coberto com palhas de coqueiro e cercado por varas de marmeleiro, acontecia o São João dos Nominando.
10 – Nesses dois últimos dançava a chamada alta sociedade do lugar. As moças prendadas, os rapazes elegantes, o juiz, o promotor, o delegado, o médico e o advogado, além dos fazendeiros, dos emprestadores de dinheiro e, de vez em quando, os enxeridos feito o Tião que vos escreve.
11 – E lá vinha a quadrilha, marcada em francês (ou seria franciu?”. Nos bailes de Aloysio a marcação era feita por Cícero Marrocos. Nos dos Nominando quem fazia a marcação era Parajara Duarte. “Anarrié, adiante uma…” gritavam e os pares obedeciam numa sincronia que não ficava a dever a esses desfiles de escolas de samba em que as quadrilhas foram transformadas.
12 – E como tudo que é bom dura pouco, vamos aos abraços que a coluna extrapolou de tamanho: Josinaldo Malaquias, Venâncio Medeiros, Higino Dantas, Zeca Porto, Zebedeu de Solanea, Francisco Ferreira, Gilberto Carneiro, Ricardo Coutinho, Cícero Lima, Vavá da Luz, Geordie Filho, Chico Pinto, Ovidio Mendonça, Cícero Florentino, João do Bar, William OIegário, Maurilio Batista, Edmilson Lucena, Miguel Lucena, Mário Gomes, Herbert Fitipaldi, Diego Lima, Adelton Alves, Todynho, Gutemberg Cardoso, Clilson Júnior, Ricardo Ramalho,Ramalho Leite, Nominando Filho, Edmundo Costa, Joca Fernandes, Marçal Lima Júnior, Tadeu Florencio e Zé Alan Abrantes.
13 – A Paraíba recebeu, em décadas passadas, o presidente em festa. O governador fez tudo para o chefe da Nação se sentir em casa. Hotel Cinco Estrelas, mordomias mil, o presidente até namorar, namorou. Viajou pelo sertão, conheceu fazendas em Patos, por aqui se demorou cerca de três dias.
Quando do seu embarque, no Aeroporto Castro Pinto, colocaram um tapete vermelho para ele pisar. O tapete ia do portão ao avião.
Acompanhado do governador, o presidente seguiu para a aeronave, ao som do hino nacional tocado pela banda da Polícia Militar. Já no pé da escada,chamou o governador para um particular, debaixo da asa do Búfalo da FAB.
– Governador, quero que o senhor hospede, por uns 20 dias, o Coronel Piero Cobato, pois ele sofreu um acidente de cama.
E diante do olhar espantado do governador:
– Uma das moças do seu cerimonial deu uma mordida na cabeça da rola dele”.
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