1 – Em 1975, quando cheguei em João Pessoa, ainda havia corso carnavalesco. Eu vi. A Rua Duque de Caxias era aberta ao tráfego de veículos e ficava tomada de jipes, caminhonetas e carros sem capota. Moças e rapazes enfeitados e melados de talco e maisena acenavam para a multidão que se postava nas calçadas. E o frevo enchia os ares da cidade.
2 – A noite a festa continuava nos clubes. Por esse tempo, repórter iniciante, fui escalado para cobrir o carnaval do Clube Astrea, do simpático e sorridente presidente João Batista Mororó. O salão principal do clube se enchia de foliões. E os casais se espalhavam pelas áreas externas para o namoro de carnaval, sob a supervisão de Doutor João, que permitia os namoros e proibia os excessos.
3 – Era o Astrea em Tambiá e o Cabo Branco em Miramar, os dois se rivalizavam. O Cabo Branco era o preferido dos colunáveis de Ivonaldo Correia, Durvaldo Varandas e Heitor Falcão, sobrando para o Astrea os boêmios, os poetas, os artistas, os intelectuais, os pequenos comerciantes e os jornalistas.
4 – E as mocinhas também. Como tinha moça bonita no Astrea! Encantavam as vistas e os ouvidos quando entoavam o hino do clube “…A- S- T- R- E- A…”
5 – Foi numa noite de carnaval de um ano distante que os foliões ouviram pela primeira vez o som do trombone tocado por um jovem, recém saído da adolescência, vindo do sertão de Itaporanga e fazendo malabarismos com a vara do instrumento. Esse jovem, mais tarde, ficou conhecido como o mestre do trombone, o professor Ranegundes Feitosa.
6 – Os desfiles do carnaval tradição aconteciam na Praça 1817. Era uma festa. A multidão enchia a praça para ver as escolas de samba, os clubes de frevo e as tribos indígenas desfilarem suas fantasias sob a vigilância do locutor Cardivando de Oliveira e a supervisão do vereador Cabral Batista.
7 – Foi num desses carnavais que o então diretor de turismo da Prefeitura, Barbosinha, se apaixonou pela rainha do carnaval, Luana. Paparicou a moça de um jeito que os repórteres Cícero Lima e Tião Lucena, vendo e testemunhando, acharam por bem registrar o fato nas páginas de O Norte e de A União.
8 – Do registro resultou o divórcio de Barbosinha e o consequente casamento com Luana. E foi um bom resultado, pois os dois casaram, tiveram filhos e viveram felizes por séculos sem fim, amém.
9 – Um dia o corso acabou, foi proibido. Os clubes fecharam suas portas, saíram de moda. O carnaval tradição ficou relegado a uma avenida periférica, sem luz. E o carnaval em si morreu. Foi substituído por umas prévias sem cheiro de povo, cópias fiéis dos carnavais da Bahia sem gosto de baiana.
10 – E a cidade virou um cemitério nos dias de carnaval, as ruas vazias, o povo indo embora a procura de outras terras, de outros frevos, de outras praias.
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Cícero Lima, Ricardo Sérvulo, Odon Bezerra, Harrison Targino, Josinato Gomes, Genivaldo Fausto, Romualdo dos Correios, Coimbra Maia, José Estima, Sebastião Gerbase, Chico Pinto, Eilzo Matos, Ademar Nonato, Maurilio Batista, Eduardo Carlos, Abelardinho Jurema, João Alberto Lins, Carlos Candeia, Gláucio Nóbrega, Marcos Maivado Marinho, Zé Euflávio Horácio, Lenilson Guedes e Mardens Góes.
12 – Dois vereadores de uma Câmara aqui de perto discutiam no plenário da Câmara. Um analfabeto, outro mais letrado. O analfabeto, partindo para a ofensiva, atacou:
– Quero dizer que Vossa Excelência é um descalcificado.
O outro, assumindo um tom doutoral, zombou:
– Veja como Vossa Excelência é burro. O nome certo é desclassificado.
O vereador analfabeto respondeu na bucha:
– Errei não. Vossa Excelência é “descalcificado” mesmo, pois é corno há bastante tempo e o chifre não nasceu ainda.”
1 Comentário
TIÃO, A MANEIRA COMO TU DIZES E CONTAS, ME FAZ SENTIR PARTICIPANDO DOS EVENTOS, MESMO SEM NUNCA HAVER ESTADO LÁ.