Porque hoje é sábado

1 – Aos sábados íamos ao Bar da API ouvir as lorotas de Moura e beber. Bebíamos muito. O presidente da Associação era Biu Ramos, o idealizador do Bar da API, aquele que funcionava no térreo do velho edifício da Visconde de Pelotas.

 

2 – Depois do Bar da API, encompridávamos o dia seguindo para o Grande Ponto de Seu João, no Cordão Encarnado, local de muitos fiados, incontáveis fofocas e numerosos namoros.Seu João costumava visitar as redações dos jornais ao final do mês para cobrar os fiados aos esquecidos.

 

3 – Quem aguentava o rojão passava pelo Driv In da Epitácio Pessoa. Certa vez o garçom chegou para Abmael Morais e cobrou a conta, já vencida há dias. Abmael não se fez de rogado: Mandou buscar os vales, somou-os e colocou o total numa folha nova, intimando o garçom: “Agora que está tudo atualizado, traga um litro de Ron Montilla, um litro de Coca-Cola e anote abaixo desse aí.

 

4 – Nesse mesmo Driv In, numa noite de comemorações, Agnaldo Almeida se inspirou e sugeriu que eu botasse o nome de Niâni na minha filha primogênita. Nome bonito e quase exclusivo. Pelo menos só conheço a minha que é chamada assim.

 

5 – A API tinha vida, tinha gente, tinha movimento no tempo de finado Biu. Era um tempo de boemia que começou a definhar depois da administração dele. Surgiu a era dos intelectuais despenteados, dos que se embebedavam com Coca-Cola e Guaraná, dos que gastavam tempo recitando versos de pé quebrado.

 

6 – E com o passar do tempo a API foi findando. Primeiro transferiram o bar para cima do telhado, depois o fecharam, alugaram o térreo a um empresário de comidas populares, as assembleias minguaram, a Associação se transformou naquela coisa sem graça que é hoje.

 

7 – Para se ter uma ideia do prestígio da API, basta dizer que candidatos a governador anunciavam as suas candidaturas no seu auditório. E os presidentes da entidade eram comumente convidados para assumirem o cargo de secretário de comunicação do Estado.

 

8 – Dali saíram para cargos de projeção Agnaldo Almeida, Gonzaga Rodrigues, Biu Ramos, Nonato Guedes e Giovani Meireles.

 

9 – O esvaziamento da API não pode, todavia, ser debitado na conta dos seus dirigentes. Os associados também são culpados. Abandonaram a Associação. Nem pagar as mensalidades pagam. E eu estou incluído no rol dos culpados, vou logo avisando.

 

10 – Aquela parte da cidade só se mantém viva, no quesito boemia, graças a Livraria do Luiz e ao grupo de poetas comandados por Hildeberto Barbosa e integrado, entre outros, por Antonio Davi Diniz, 1berto de Almeida e Chico Pinto, que aos sábados faze tertúlia na Livraria e ao final da manhã se delicia com cabeça de bode e cerveja num boteco do Mercado Central.

 

11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Mário Gomes Filho, Herbert Fitipaldi, Diego Lima, Fábio Bernardo, Fábio Targino, Jackson Bandeira, Cristiano Machado, Vavá da Luz, Geordie Tampa de Furico Filho, Fred Menezes, Ademar Nonato, Eilzo Matos, Antônio Malvino, Julio Santana, Frutuoso Chaves, André Cananéia, Maurilio Batista, Fernando Valaque, Teócrito Leal, Abelardinho Jurema, Ulisses Barbosa, Aldo Schuller, Aldo Lopes de Araújo, Edmilson e Miguel Lucena, Toinho Costa, Nonato, Lenilson e Linaldo Guedes, Josinaldo Malaquias, Manoel Raposo, Rubens Nobrega e Leila Oliveira.

 

12 – Em Triunfo, o ex-prefeito Doutorzinho fez uma farta distribuição de óculos de grau com os seus eleitores sem qualquer tipo de consulta.

Joaquim Chaves, um caboclo da roça, recebeu um óculos que tinha as lentes muito grossas. Mas como era dado, não pensou duas vezes: botou o bicho na cara e saiu andando, vendo tudo grande.

Ao se aproximar da feira de frutas e verduras, parou em frente a banca do vendedor de limões, e, olhando para os bichos, ordenou:

– Compadre Celso, abra dois cocos desses que eu tô morrendo de sede.