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Porque hoje é sábado

10 de fevereiro de 2024

1 – Hoje seria o sábado de Zé Pereira lá no meu sertão. A orquestra fazia a introdução e o povo cantava: “Viva Zé Pereira/viva Juvenal/viva Zé Pereira/no dia do Carnaval…” Por muito tempo eu pensei que o Zé Pereira do frevo era o coronel que governou Princesa no começo do século passado e comandou uma revolta contra o resto do Estado em 30.

 

2 – Os “Macacos” da Polícia também pensavam assim no período da guerra. Chamavam-no Zé Carnaval, mas faziam isso com despeito porque, embora tidos e havidos como poderosos, jamais conseguiram vencê-lo pelas armas.

 

3 – No domingo havia o “entrudo”. Uma multidão saia de casa em casa molhando os enxutos e levando-os a integrar a turma no molhas-molha mais arretado que poderia existir. Além da água, jogava-se talco nas pessoas. Talcos cheirosos, perfumadíssimos, nada dessa massa de maisena que prega nos cabelo igual a catarro em parede.

 

4 – No período da tarde desfilavam os caretas. Enchiam as ruas com suas máscaras e fantasias. As pessoas ficavam nas calçadas tentando identificar quem era o mascarado, mas somente no final do dia, quando as máscaras eram retiradas, o mistério era revelado.

 

6 – E à noite, os bailes. Digo os bailes porque, além do baile refinado dos ricos no clube social da cidade, nos bairros periféricos, conhecidos como pontas de rua, os bolos doces animavam as noites carnavalescas com alegria regada a cachaça, vinho de jurubeba Indiano e o famoso Pau Dentro que Zé Brejeiro fabricava usando cachaça Altiva e raízes das mais variadas espécies.

 

7 – O Pau Dentro servia para várias funções. Além de embriagar quem bebia, tirava puxado dos peitos, mazelas das vias urinárias, revestia o fígado, normalizava as funções das tripas e, segundo garantiam os entendidos, levantava os esmorecidos.

 

8 – Fiquei sabendo que nos dias correntes alguns blocos carnavalescos insistem em sobreviver, mas os bailes foram transferidos para o meio da rua. Ali tem um palco onde cantores e bandas se apresentam para um povo estático que só faz assistir e balançar os braços.

 

9 – Quando cheguei na Capital, na década de 70, havia carnaval. E dos bons. Até o corso alcancei. Vi o corso subindo pela Duque de Caxias no sentido Catedral para descer pela General Osório e de lá se mandar para a praia.

 

10 – E os bailes do Astrea e Cabo Branco eram disputados à tapa. Eu torcia pelo Astrea e pelo Doutor Mororó, seu diretor. Mas tinha baile também no Assex de Jaguaribe, no Internacional de Cruz das Armas, no Guarani do Róger, no América do Varjão e assim por diante.

 

11 – E começo os abraços por esse carnavalesco porreta que hoje está lutando para se recuperar dos males provocados por um AVC: Cardivando de Oliveira. E vamos mais: Chico Pinto, Rubens Nóbrega, Ulisses Barbosa, Cícero Lima, Renato do BB, Barbosinha Good Life (in memorian), Abelardinho Jurema, Fernandinho Milanez, Giovani Meireles, Luciano Bernardo, Hilton Gouveia, Antonio David Diniz, Josinaldo Malaquias, Ortilo Antonio, Werneck Barreto e Teócrito Leal.

 

12 – Uma tarde, no Rio de Janeiro, Severino Cabral andava pela avenida Rio Branco. Resolvendo passar para o outro lado, meteu-se na frente dos carros, fora do sinal. O guarda gritou:

– Cidadão, não pode ir por aí. É proibido atravessar em diagonal!

Seu Cabral voltou:

– Você não conhece roupa não, ignorante? Isso não é “diagonal”. É “tropical maracanã”.

Atravessou em diagonal e tropical.

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