Porque hoje é sábado

1 – O povo é muito maldoso, de tudo faz uma paródia, uma prosopopeia, um fuxico. Agora mesmo, após essa oitava internação de Bolsonaro pós medida judicial contra ele,  anda a dizer que tudo não passa de uma manobra do ex-presidente para tentar aliviar a barra e amolecer o coração de Xandão, que continua duro feito pedra.

 

2 – Eu acho tudo isso uma maldade. Não gosto do ex, mas daí dizer que os médicos de Natal se prestaram a fazer parte de uma farsa é ir longe demais. O homem adoeceu mesmo, passou mal, foi socorrido pelo Samu que ele quis extinguir e transportado num helicóptero cedido pelo Governo do Rio Grande do Norte, que por coincidência é dirigido por Fátima Bezerra, do PT raiz.

 

3 – João Pessoa cresceu, virou metrópole, atraiu coisas boas e na onda chegaram também os malfeitores. As ruas estão tomadas por bandidos que assaltam transeuntes e espalham o medo. E eu com saudade da João Pessoa que conheci em 75, cujo único bandido era o Tarado do Compasso que sequer existia, era apenas e tão somente uma criação do grande Enoque Pelágio.

 

4 – A gente percorria os bares do centro e da orla sem medo de encontrar pela frente o bandido armado disposto a assaltar. Os cabarés, hoje engolidos pelo sexo livre e consentido, abriam suas portas nas bocas de noite, sem hora para fechar. Era bom, muito bom, muito ótimo demais.

 

5 – A cidade velha, que chamam de centro histórico, morreu e esqueceram de enterrar. Só restaram prédios abandonados, caindo aos pedaços, alguns de portas substituídas por paredes, outros escancarados aos consumidores de drogas e sem tetos, um verdadeiro horror.

 

6 – Ande pelo centro da cidade durante a noite, claro, se tiver coragem, pois o vazio das ruas dá a quem passa por elas a sensação de estar sozinho no mundo.

 

7 – Mas deixemos para lá, continuemos acreditando nos bons propósitos dos governantes, que entra ano e sai ano prometendo revitalização e coisa e tal. Escuto essa história desde os tempos em que, jovem taludo e farrista, percorria ruas e becos da velha cidade ao lado de companheiros amantes das noites insones.

 

8 – A Prefeitura de Princesa vai gastar R$ 1 milhão e 200 mil com o show de Leonardo e de um outro artista para o chamado São João fora de época. Isso quer dizer que a edilidade alcançou, finalmente, o seu equilíbrio financeiro, não deve nada a ninguém, está com o pagamento da folha de pessoal em dia, etc e coisa e tal.

 

9 – Só Leonardo vai levar R$ 600 mil, dinheiro suficiente para comprar uma casa boa num condomínio fechado em bairro nobre de João Pessoa, a cidade mais cara do Nordeste.

 

10 – Hoje, sábado, dia de forrar o bucho com cuscuz, bode, picado, galinha de capoeira e arroz de leite. Onde? Em todo canto, no Mercado da Torre, no Zé Américo, em Mangabeira, no Bessa e no Geisel. Não será por falta de opção que o amigo deixará de comer do bom e do melhor.

 

11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Toinho Fernandes, Farinha Almeida, João Bosco Fernandes, Aracilba Rocha, Ortilo Antonio, Hilton Gouveia, Chico Pinto, Jackson Bandeira, Germano Barbosa, Jordam Bezerra, Douglas Lucena, Fabio Mozart, Julio Borges, Fernando Teixeira, Alexandre Moca, Paulo Josafá e Zé Galego.

 

12 – Mané Pitito cometeu uma indecência num dos seus muitos delírios etílicos e foi preso. A polícia o levava para a prisão debaixo de pau, enquanto ele gritava “ai ai ai, me acuda, me acuda…”. Dona Sinhá, que observava a cena da sua janela na Rua Nova de Princesa, não conteve a revolta e gritou de lá:

–  Por que vocês num mata logo?

Mané Pitito parou de gemer e respondeu ele mesmo:

– Não Dona Sinhá, tá bom do jeito que tá..

 

Minha tia Jovelina gostava de jogar no bicho. Não podia ver uma placa de carro que ia olhar a milhar. E também costumava interpretar os sonhos que tinha. Era sonhar, interpretar, jogar e ganhar.

Como daquela vez que que sonhou indo à padaria comprar pão. Acordou, foi à banca de Zé de Horácio e cravou no tigre. Acertou na mosca. E depois explicou o sonho: 

– O pão é feito de farinha de trigue”.