Porque hoje é sábado

1 – Marcos Pires alembrando, para ninguém se esquecer: “É hoje! A partir das 13 horas, no quiosque Maverick, que fica no começo da calçadinha do Cabo Branco (está cheio de faixas), começa a Baratona, com saída prevista para 16 horas. Não tem que comprar camiseta nem pagar nada, à exceção do que consumir, mas pode levar a bebida de casa. Não aceitamos verba pública nem patrocínio. Dinheiro público é pra saúde e educação. Venha e traga sua alegria. E TOME FREVO!”

2 – Eu já fui a uma Baratona de Marcos Pires e gostei. Tenho até fotos aqui comigo. Nela, na foto, estou ao lado de Kubi Pinheiro e de uma sueca loira. A sueca estava com uma suvaqueira da mulesta dos cachorros. O suvaco dela fedia mais do que o fundo de Maria Catabi. E tava bêba. Mas que era bonita, era.

3 – Ah, o carnaval. Lembrei dos ontens. Nós em Tabira tocando no conjunto de Zé de Minininha. O conjunto se chamava “Os Rebeldes” e era formado pelo maestro Zé e pelos seguintes músicos: Zé de Bezeca, tenor; Tião Lucena, soprano; Chico de Mourão, trombone; Ernani de Ulisses, piston; Mitonho, bateria; Neguim Goiaba, maracas: Eronildo, bombo e Bibiu Lucena, cantor.

3 – Em Tabira a gente reinava. E todo mundo namorava as meninas do lugar. Até Zé de Bezeca arrumou uma, apesar de já idoso, casado e metido a sacristão. Foi ali que Zé de Minininha se apaixonou e quase vai a falência, pois toda semana saía de Princesa somente para, de madrugada, tocar “A Distância” de Roberto Carlos para sua amada, em friorentas serenatas.

4 – De carnavais inesquecíveis, lembro do bloco dos Arapapacas descendo a Rua do Cancão, guiado pelo velho Joaquim Gomes, que de apito na boca ditava os passos do frevo endiabrado tocado pelos dedos ágeis de Zé de Minininha. Os Arapapacas jogavam talco nas pessoas perfiladas nas calçadas, uns admirando, outros mangando, chamando os frevistas de “tai de faca”. O tempo passou, a cidade mudou, os ricos ficaram pobres, os pobres ficaram ricos e os ricos de ontem passaram a implorar para participar do bloco.

5 – E no velho Astréa de carnavais inquescíveis, vi pela primeira vez um garoto fazer o diabo com um trombone de vara. O menino era tão danado que muitos foliões pararam de dançar só pra vê-lo tocar. Esse menino depois virou homem e ficou conhecido no país inteiro como Ranegundes Feitosa.

6 – O presidente Mororó se comportava como um verdadeiro rei.Os mais afoitos eram advertidos paternalmente para não se excederem. E quem se aproveitava do escondido da piscina para aquele namoro mais enxerido, era chamado à parte e solicitado a refrear suas vontades.

7 – Foi naquele Astréa que um coleguinha jornalista, apertado, desceu as calças no banheiro para fazer um número 1. Estava ali, concentrado e gemendo, quando foi despertado pelo sujeito a lhe vomitar os cabelos. E não contou conversa: “Quer guerra, é?” E de lá de baixo, deu de garra de um tolête e atirou na cara do agressor.

8 – Os dois principais clubes da cidade eram o Astréa e o Cabo Branco. O Cabo Branco, rico e sofisticado, era cheio de exigências. De modo que eu preferia cobrir, para o jornal A União, o carnaval do azul e branco. Que invariavelmente terminava na Lagoa do Parque Solon de Lucena. Os foliões saíam dançando do clube, invadiam as ruas de Tambiá e só dispersavam na Lagoa, ao som dos frevos do maestro Vilô.

9 – Mas havia, também, carnaval no Clube dos Sargentos, de Jaguaribe e no Internacional de Cruz das Armas. Sem contar as rodas de samba da Malandros do Morro e a frevança no Bandeirantes da Torre.

10 – Durante as tardes, o carnaval de rua não se limitava apenas aos desfiles de tribos, blocos e escolas de samba, que aconteciam na Praça 1817. Havia o famoso corso. Aliás, quem acabou o corso? Eu não lembro. Lembro apenas que alcancei esse tempo.

11 – E haja abraços para Cicero Lima, Humberto de Almeida, Walter Galvão, Josinaldo Malaquias, Antonio David Diniz, Chico Pinto, Frutuoso Chaves, Maria Eleika Amorim,Willis Leal, Abelardinho Jurema, Cardivando de Oliveira, Otinaldo Lourenço, Martinho Moreira Franco, Leila da API, Poliana Lima,  Jackson Bandeira, Zé Maria Fontinelli, João Tomé Camurça, Eudes Moacir Toscano, Wilson Terroso, Sebastião Barbosa, Isaías Olegário e Camilo Macedo.

12 – Com apenas 18 anos, mas já farrista, Miguezim meu irmão dançava com uma coroa de 48 anos na seresta dos Bancários. Com o pote cheio de melopréia, começou a dar cheiro no cangote da moça.

– Meu querido, você tem idade pra ser filho – ponderou a coroa.

– O que vale é o verdadeiro amor – emendou Miguezim, em tom meio cafajeste.