1 – O primeiro avião a sobrevoar Princesa Isabel tinha a missão de bombardear a cidadela rebelada em 30, sob o comando do coronel Zé Pereira. Boatos corridos do Piancó davam conta de que Zé Américo, comandante da Polícia de João Pessoa, decidira explodir a cidade pelo céu, já que pelas estradas poeirentas de Tavares e do Canoa não havia jeito de entrar.
2 – Todo mundo esperava as bombas e quando a zoada do avião quebrou a calmaria da hora do almoço, os cabras do coronel correram para o meio da rua empunhando e disparando os mosquetões de cinco tiros no teco-teco governista.
3 – O avião, em vez de bombas, estava carregado de panfletos para serem jogados sobre a cidade, conclamando o povo à rendição. O piloto procurava a posição dos ventos para jogar os papéis de modo a fazê-los espalharem-se pela cidade, os cabras atiravam de baixo para cima e o major Feliciano, galego agigantado e contra-parente do coronel, que havia despertado da sesta com a zoada, puxou a garrucha da cintura, apontou pra cima e disparou, no momento exato em que os panfletos desciam.
-Não matei, mas tirei as penas – exultou o major.
4 – Depois de trinta, os aviões somente voltaram aos céus de Princesa a partir de 1950, com o brigadeiro Pedro Frazão, filho da terra que gostava de passar os feriados junto à família e costumava chegar pilotando o bimotor da FAB, zoadento e veloz. Pedro tirava fino na torre da Igreja e tirava gritos de espanto das goelas dos matutos.
5 – O campo de aviação de Princesa ainda hoje fica localizado no distrito de Lagoa da Cruz, de modo que o avião tem que avisar da sua chegada na cidade, para que a comitiva de recepção vá ao aeroporto buscar o visitante.
6 – Como em Princesa, depois de 30, nasceu uma rivalidade quase sangrenta entre as famílias Diniz e Pereira, os aviões transportando aliados da primeira família tinham que sobrevoar a casa do velho Nominando, para que este mandasse o comitê de recepção buscar quem estivesse chegando. Quando se tratava de amigo dos Pereira, o sobrevôo acontecia ao redor do palacete da Rua Nova, onde ainda hoje estão guardados os mosquetões da guerra. E, igualmente, os Pereira faziam a carreata até Lagoa da Cruz para abraçar quem chegava.
7 – Até que aconteceu aquela confusão na década de 60.
O avião passou por cima da casa de Nominando, deixando os Diniz ouriçados e prontos para a festa. Mas aí sobrevoou o palacete de Zé Pereira, também assanhando os pereiristas. Foi de novo até a casa de Nominando Diniz, voltou à casa dos Pereira, arrodeou o Cancão, passou de volta pelas duas trincheiras de intrigados e demandou para Lagoa da Cruz.
8 – Claro que se estabeleceu a confusão. Cada ala política da cidade achava que a visita era dela e, por achar, sentia-se no direito de ir a Lagoa da Cruz buscá-la. Temeu-se até pela volta da guerra de 30, com os grupos se armando até os dentes para garantir seus direitos. A sorte foi a chegada de Socó motorista, trazendo na sua Rural Wills o fotógrafo e piloto Eugênio Marques, que chegava proveniente de Lagoa da Cruz em busca da pensão de Dona Isaura, depois de passear pelos céus da cidade tirando fotos encomendadas por um princesense saudoso residente em João Pessoa.
9 – Todo mundo pegando ar com o vereador Koloral, somente porque ele foi sincero. Ao ser convocado pelo Gaeco ao romper da aurora, o rapaz, ainda com os olhos semifechados, foi cercado pela imprensa para falar a respeito do caso e singelamente disse: “Só não gostei da hora. Durmo às 3 da madrugada e era pra estar na cama ainda”.
10 – Nunca pensei alcançar o tempo em que feijão se tornasse produto raro, de rico, mais caro do que um quilo de filé. Agora, nesses tempos bicudos, dá até medo comprar um quilo do produto e sair por aí exibindo a conquista. O assaltante com certeza vai querer tomar.
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Mário Gomes Filho, Herbert Fitipaldi, Humberto Alexandre, João Vicente Machado, Fátima Ventura, Cida Ramos, Albierge Fernandes, Gilberto Carneiro da Gama, Francisco Ferreira, Diego Lima, Sara Ferraz, Márcia Almeida,Ranieri Martins Botelho, Evanilson Dias, Veronica Albuquerque, Neto Caitano e Rita Lopes.
12 – Dona Alzira é servente, prestando serviço no Centro Administrativo do Estado, em João Pessoa. Como ganha pouco e gasta muito, encheu-se de dívidas e estava desesperada sem saber como pagar as contas. Até que a sua vizinha sugeriu que fosse a Igreja Universal participar de uma sessão de descarrego, na qual encontraria meios de se livrar dos credores e ainda ganhar uns trocados.
Cheia de fé e esperança, dona Alzira pegou todas as suas contas, colocou-as numa bolsa e mandou-se para a Igreja. Chegou com o culto já começado, no exato momento em que o pastor determinava ao capeta que saísse de perto do seu rebanho. E bradava ele:
-Sai, espírito maligno! Abandona essa pessoa, seu covarde. “Disaloja”, porque eu estou mandando. Vai! “Disaloja”!
Ouvindo aquilo, dona Alzira apressou-se: abriu a bolsa e puxando os carnês que ali guardava, gritou para o reverendo:
-Pois não, seu pastor! Tão aqui: Lojas Maia, Insinuante, Armazéns Paraíba, Pão de Açúcar…
1 Comentário
UM PAÍS AVACALHADO.
Por Fernando Brito · 16/03/2019
Talvez não se precisasse mais do que sermos um país onde Lula está preso numa solitária e Jair Bolsonaro está no Palácio do Planalto para justificar o título acima.
Mas, como há gente tola o suficiente para acreditar que um homem que tinha autoridade sobre o uso de centenas de bilhões em investimentos públicos e favores fiscais possa ter conspurcado sua autoridade em troca de uma reforma de segunda num pombal no Guarujá e que outro, que jamais propôs alguma coisa alem de atirar, matar, castrar e estuprar possa ser o caminho para a paz social, gasto algumas linhas para provar o que afirmo.
A Justiça, depois de desmoralizar-se numa perseguição inquisitorial, por anos a fio, está em frangalhos. Um procurador da província faz um acordo para ficar com R$ 2,5 bilhões à sua disposição. A Procuradora Geral da República pede a anulação da monstruosidade e a categoria, até onde se sabe, revolta-se contra ela. O Supremo Tribunal Federal, depois de apanhar na cara por longa temporada – até mesmo oferecendo a face para isso – converte-se em delegado de polícia para, depois de arrombadíssimas todas as suas portas, “descobrir” quem o está enlameando e difamando, quando isso está mais do que claro para qualquer um que ligue o computador e acesse as redes sociais.
A economia, há três anos, não tem projeto algum senão vender o que puder, cortar onde não deve e dizer que todos os insucessos que coleciona são “culpa dos governos anteriores”. Que, tendo ganho o bilhete premiado da descoberta de uma imensa jazida de petróleo coloca na presidência da empresa estatal que o encontrou um homem que sonha em privatizá-la. Um ministro da Economia que apresenta como proposta “genial” deixar que se esvazie o Estado, eliminando metade de seus servidores (sem efeitos econômicos de curto ou médio prazo, pois aposentar-se-ão os funcionários eliminados) e que eliminem as vinculações do Orçamento que obrigam a gastos em saúde e em educação.
Educação, aliás, que está entregue às intrigas diárias entre incompetentes, facistóides e um charlatão que despeja ofensas e obscenidades diariamente no Facebook, chamando de drogados e homossexuais os jornalistas que – timidamente, até – ousam criticar essa situação de barbárie. A ordem para formarem as crianças para ouvirem o slogan presidencial é até pouco diante do quadro que lá se instalou.
Ordem nas escolas, exceto por um massacre ou outro, desordem nos quartéis, com as Forças Armadas sendo desmoralizadas pela barganha pública de suas aposentadorias enquanto generais reformados vão ocupando a máquina pública e circulando, desenvoltos, com atores pornô e louvadores de milicianos.
A imagem do Brasil no exterior, antes tão cara a eles, transformada em objeto de chacota, com o fundamentalismo do minando o Itamarati e poderia seguir adiante, em quase todas as áreas do Governo, ou pseudogoverno, talvez nome mais apropriado ao que temos.
O fato objetivo é que não há saída da crise para um país que degrada sua vida institucional.
Como não há legitimidade em quem ascendeu ao poder, embora pelo voto, através de um processo ilegítimo. A vontade nacional, quando se expressa, como aconteceu, no sentido destrutivo, só destruição traz, se não se move por esperanças.
A falta de sonhos é o portão do pesadelo.