Porque hoje é sábado

1- Hoje é sábado de aleluia. É hoje que Judas paga o pato. Ele, que traiu Jesus por trinta dinheiros, presta contas ao cão canjiquinha pelo seu erro. Em Jaguaribe tem malhação. É como chamam o castigo aplicado ao traidor. Soube eu que 1berto de Almeida será o juiz do caso. Ele mandará ler o testamento do dito cujo e ao final decretará a sua morte como forma de punição por tão horrrosa traição.

2 – Judas vai ter vida mais amena em Princesa. Pedro Fogueteiro morreu e não haverá mais aquele istrupiço da morte pelas bombas. Antigamente, quando Pedro estava entre nós, Judas era pendurado num pau de agave e subia ao topo com o bucho cheio de bombas e confeitos. Pedro tocava fogo no pavio, as bombas pipocavam e voava pedaço de Judas para tudo quanto é canto. Pedaço de Judas e confeitos juntos, que eram apanhados pela meninada gulosa.

3 – Mas Pedro morreu e com ele a alegria da meninada. Agora Judas fica lá, no bem bom, mangando de todos e achando graça.Que cumpade Dionisio, sucessor de Pedro nos assuntos bombais, bote a tradição pra frente e mande pipocar o boneco. Ainda dá tempo. O dia apenas nasce nas redondezas da Cancão.

4 – Caso o amigo pense em visitar Nisia Floresta, um conselho: tenha cuidado. Um garoto de apenas oito anos deu de garra de um objeto pontudo e desgraçou a vida de oito carros estacionados no pátio de uma igreja na Praia de Búzios. Os carros ficaram parecendo um livro chinês, com aquelas letras que ninguém lê, mas vê.

5 – Falam por aí que fulano vai ser indiciado ou processado. O interessante é que os faladores representam figurões já processados e indiciados, portanto em adiantado estado de quase prisão.

6 – Voltando ao sábado de aleluia. Houve um tempo, não muito distante, mas houve sim, em que o sábado era recebido com festa lá no meu sertão de Princesa. Zé de Minininha, Mané Tocador, Luiz de Alfredo, Manoel Marrocos, Chico de Mourão, Mitonho, Bixota, Nêgo Heronildo, Neguim Goiaba, Zé Birrim, Zé de Bezeca, Bicudo Massaroca, Ernani de Ulisses, Benami de Pedro Crente, Dão de Chico Pedro e Chico Costa pegavam seus instrumentos e faziam bailes para saudar a ressurreição de Jesus Cristo, uns nos clubes dos ricos, outros nos bolos doces, todos, porém, numa alegria só, a alegria de ver o justo vencer o injusto e o traidor do Judas finalmente pagando pelo erro que cometeu.

7 – Nas Pedras da velha Lagoa da Perdição as moçoilas caridosas ajeitavam a vida dos meninos em flor. Everaldo Maia puxava a fila e nós outros seguíamos obedientes para o extremo sacrifício de aprender as coisas até então proibidas para crianças inocentes, saídas do catecismo de dona Odívia e das outras santíssimas filhas de Maria de Frei Cirilo.

8 – Conversei com Aldo Lopes, o escritor/delegado. Ele informa que está se aposentando e assim que deixar o ofício policialesco, retorna às origens. Vai morar na Serra dos Bernardinos, entre Princesa e Triunfo, numa casa que construiu no topo da montanha e de onde avista, de um lado Triunfo no Pernambuco, do outro Flores, também no Pernambuco, à esquerda Manaíra e lá na frente, na planície, majestosa e bela, a nossa Princesa Isabel.

9 – Aldo garante que vai produzir livros e meninos á mão cheia, plantar batata doce e criar bodes, sem esquecer as deliciosas galinhas de capoeira que dão ovos de verdade e carne que se come com farofa de cuscuz e feijão verde.

10 – Duplicaram a BR 101 não faz muito tempo. Colocaram aquele asfalto de cimento, alto e garantido, mas em alguns trechos os buracos começam a aparecer, o que me faz concluir o seguinte: Já não se faz mais asfalto como antigamente.

11 – E agora lá se vão meus abraços de aleluia para Marco Antonio Gouveia de Morais, Chico Pinto, Vavá da Luz, Alisson Filgueiras, Marcos Pires, Ricardo Ramalho, Herbert Fitipaldi, Mario Gomes Filho, Diego Lima, Humberto Alexandre, Fábio Bernardo, Antonio Malvino, Francisco Ferreira, Gilberto Carneiro, Ricardo Coutinho, Chico Franca, Edmilson Lucena, Miguel Lucena, Marcus Odilon, Maurilio Batista, Quinto de Santa Rita e Ricardo Pereira do Nascimento.

12 – Houve um assassinato em Lagoa Seca, perto de Campina. A polícia foi mobilizada. O corpo se encontrava num matagal e o delegado encarregado das investigações proibiu que o removessem até que findasse o levantamento do local. Ele próprio saiu a procurar vestígios que identificassem o assassino e, ao adentrar numa moita, encontrou ali um velho tolete, todo ressecado pelo sol. Pediu um saco plástico e, cuidadosamente, guardou o achado, entregando-o a um auxiliar com a expressa recomendação:

-Leve agora mesmo para Campina e mande fazer o exame para checar as raias do c