Porque hoje é sábado

1 – O melhor da feira hoje, em Princesa, no sertão, é o quebra-queixo. No meu tempo a gente fazia sanduiche, isso mesmo , sanduiche de pão francês com quebra-queixo. Depois de comer, ajudava na descida um caneco d`água fria, tirada do pote de Luizinho de Calú. Quando o caneco de aluminio, com azeia e tudo, descia em busca da água, a gente escutava um tibungo.

2 – Coisas simples, porém gostosas de se viver. A feira por aqui é boa, mas no sertão tem sabor de festa. É uma festa semanal, para a qual acorrem moradores da rua e dos sítios. Houve um tempo em que eu quebrava um galho vendendo pão e cocada numa barraquinha armada na saída para a Serra do Gavião. Ganhava uns trocados que ajudavam nas brincadeiras de logo mais. Até que um dia quebrei com uns fiados que jamais foram pagos. Não direi aqui os nomes dos velhacos. Eles já morreram.

3 – A turma do sítio descia à rua logo cedo. Passava no açougue, comprava um quilo de carne de porco com muito toicim e se jogava nas bodegas tomando todas. No final da tarde, regressava, um pé no norte e outro no sul, levando numa mão a garrafa de Altiva e na outra o quilo de porco pendurado num cordão de agave, já murchando de tão sambado, mas que seria, sem dúvida, uma boa mistura para o feijão da semana inteira.

4 – E as matutas chegavam querendo amor. E os da rua lhes davam amor entre as pedras da Lagoa, no escondido da Biblioteca Pública, nas margens da Pichilinga do Açude Velho, entre as grotas do Jatobá e sob a sombreira braúna do Maxixe que ainda hoje está lá para contar a história.

5 – Quando a noite chegava, as casinhas dos sítios davam sinais de vida pelas luzes dos candeeiros movidos ao querosene comprado nas bodegas de Diolindo, Zé de Alvelino, Zé Domingos, João de Teté, Rafael Rosas, Joca Fernandes, Mestre e Severino Barbosa.

6 – E os da rua, já em busca de novas aventuras, corriam ao Bar do Bartolomeu para namorar dançando com as meninas em flor.

7 – O São João está chegando e o forró come no centro, embora algumas autoridades, esquecidas que são daqui e representam os daqui, metam os pés pelas mãos e contratem, a peso de ouro, cantores do sul para esculhambar com a tradição nordestina.

8 – Essas deturpações estão tirando o brilho das festas. Em Campina Grande, embora o São João continue grande, já não se vê mais aquela alegria inocente dos primeiros tempos. Transformaram a festa num negócio e o povo, como diria o poeta Ronaldo, não aguentou e está pedindo o divórcio.

9 – E fugindo para lugares onde o São João continua sendo São João, a exemplo de Bananeiras, Monteiro, Cajazeiras, Água Branca, Juru e por aí vai.

10 – Falar em São João, agora, dia 10 de junho, haverá o São João dos Princesenses na Capital. Mais um. Festa boa, com hora pra começar e sem hora pra terminar. Como sempre, acontecerá numa casa bem montada no Altiplano do Cabo Branco. Semana que vem dou detalhes.

11 – E agora os abraços sabadais para Diego Lima, Tadeu Florencio, Emanuel Arruda, Francisco Florencio, Terezinha Mariano, Luciano Arroz, Marçal de Batista, Tenório Nóbrega, João Vanildo, Veronese Lima, Marçal Lima Júnior, Bezinho Fernandes, Zé de Edezel, Lula Bolachão, Arnóbio Viana , Frutuoso Chaves e Zeca Ricardo Porto.

12 – Quando as missas eram rezadas em latim, Padre Anacleto, de Uiraúna, era ajudado pelo sacristão Epitácio, que não entendia patavina nenhuma da língua. Mesmo assim respondia ao que era falado pelo padre sem manifestar a menor insegurança. Padre Anacleto cantava o “orate fratus” e Epitácio respondia:  “Orate fratre good-night retifica na botica bajilone de alumínio às quatro horas da manhã pra fazer coan, coan.”