RAMALHO LEITE
Coube ao engenheiro francês Luis Vauthier a tarefa histórica de construir a primeira estrada do nordeste brasileiro, digna desse nome. Seu trabalho foi imortalizado por Gilberto Freyre em “Um Engenheiro Frances no Brasil” e outros estudos com o mesmo objetivo. Estava o técnico convencido de que as estradas de rodagem se sobrepunham aos caminhos de ferro e por isso, deveriam receber a exclusiva atenção dos governos….e “que os caminhos de ferro se deve aprazar para um futuro mais ou menos longínquo” conforme repete Estevâo Pinto em “A Historia de Uma Estrada de Ferro do Nordeste”.
Na Parahyba, o governo Imperial concedeu ao conselheiro Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, (depois Visconde de Cavalcanti) ao bacharel Anisio Salatiel Carneiro da Cunha (Irmão do Barão de Abiahy) e ao engenheiro André Rebouças, autorização para constituir uma empresa com o objetivo de construir uma estrada de ferro entre a Capital da Província e Alagoa Grande, com ramificações para as Vilas de Ingá e Independência (Guarabira). Essa concessão foi depois transferida para a Estrada de Ferro Conde D’Eu, fundada em Londres em 1875. O primeiro trem correu nessa linha em 30 de abril de 1881. Ao que parece, inicialmente se desprezou o traçado original de Alagoa Grande e Ingá, preferindo-se Mulungu e Pilar. Em 1883, em 7 de setembro, o trem chegava a Mulungu e a 28 de dezembro, em Pilar.
O engenheiro André Rebouças entendia que o porto de Cabedelo, sendo o mais oriental do Brasil seria futuramente a “estação marítima do maior caminho de ferro interoceânico da América do Sul”. Uma lei de 1882, garantiu o contrato para a extensão da rede ferroviária até Cabedelo, concluído em 1889, já nos estertores da monarquia. Guarabira/Independência era o ponto terminal da Estrada de Ferro Conde D’Eu. A ligação entre esse terminal e Nova Cruz-RN foi arrendado à Great Western que, por outro lado, obrigou-se a implantar o ramal Independência a Picui que, como todos sabemos, parou em Bananeiras.
A companhia inglesa prossegue no cumprimento do seu contrato e em 1910 abre ao trafego provisório a linha até Pirpirituba sendo no ano seguinte inaugurado o trecho entre Itamataí e a parada de Grossos. Em 1913, o trem passa pela estação de Cacimbas e aporta em Borborema, demorando-se aí por muitos anos até que fosse concluído o túnel da Serra da Viração.
Como o ramal Independência a Picui visava atingir as zonas secas da Paraíba e do Rio Grande do Norte, ligando o brejo aos sertões, por obra de Epitácio Pessoa e prestigio do presidente do nosso Estado, Solon de Lucena, o trecho foi entregue à responsabilidade da Inspetoria Federal das Obras Contra as Secas.
Passaram-se cem anos desses acontecimentos. Continua no próximo capitulo, digo, coluna.
2 Comentários
A partir de Bananeiras, a estrada de ferro seguiria seu caminhamento vencendo a serra obedecendo as curvas de níveis até alcançar Casserengue e, a partir dali continuar seu trajeto, passando por Barra de Santa Rosa até chegar à Picuí. Até hoje, existem cortes , pontes e atêrros construídos, principalmente no município de Barra de Santa Rosa, na antiga Fazenda Riacho da Cruz, pertencente à época a Zé Rufino e na Fazenda Quandú, pertencente à Pedro Ferreira. A linha férrea não foi concluída por incapacidade politica, demência e ignorância dos nossos representantes no Congresso Nacional, na época, instalado no Rio de Janeiro. Vou aguardar a continuação do artigo de Ramalho Leite no próximo domingo.
Apenas para colaborar com o assunto que considero fundamental para minha região sofrida do Curimatáú , devo acrescentar que essas obras básicas citadas pelo senhor Oscar tiveram extensão até aqui no município de Picuí.