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Porque político nenhum deve cantar vitória antes da hora

24 de outubro de 2018

Se você acha impossível uma virada na eleição presidencial daqui até domingo, preste atenção nessas duas historinhas que vou contar.

A primeira vem da década de 60.

Disputava-se a Prefeitura de João Pessoa.

O candidato do Governo era Robson Espínola. Secretário de Pedro Gondim, na época o governador mais popular do Nordeste, homem de confiança, genro do chefe do executivo, Espínola despontava como o franco favorito. Tanto era favorito que não apareceu um político considerado à sua altura para enfrenta-lo.

A oposição, que não tinha candidato, teve que engolir a candidatura de Domingos Mendonça Neto, vereador, pobre, sem um carro para andar, sem um serviço de som para fazer discurso, um caso perdido. Tão perdido que o PSD, ao qual era filiado, não lhe deu apoio. Tentou negar-lhe o registro da candidatura, mas como ele insistisse, deixou que registrasse, mas não lhe deu a mínima.

E aconteciam os comícios.

Os de Robson eram uma festa. Palanques lindos, belas moças enfeitando a paisagem, cantores, músicos, cachaça dando no meio da canela, a estrutura do Governo posta à sua disposição e o próprio governador, dono dos votos e das consciências, impondo o seu escolhido como o futuro prefeito de nossa amada Capital.

Domingos ia pras feiras, abraçava o açougueiro, o vendedor de frutas, botava menino catarrento no braço, elogiava a beleza desdentada da fateira, entrava nas casas e ia direto pras cozinhas abrir as tampas das panelas e beliscar as tripas, os mocotós e os pés de galinhas. E fazia passeatas noturnas, todo mundo a pé, no protesto mudo daqueles que, sem voz para protestar, aguardam a hora da verdade para mostrar que estão vivos e que têm como dar o troco.

Apurados os votos, Domingos se elegeu prefeito e Robson amargurou a maior decepção da sua vida. A decepção foi tanta que ele nunca mais quis ser candidato a nada.

E a segunda historinha aconteceu na década de 80.

O senador, sociólogo e falante Fernando Henrique Cardoso enfrentou o decadente, envelhecido e encachaçado Janio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

A campanha foi tão desigual que, encerrada a votação e achando-se eleito, Fernando Henrique foi ao gabinete do prefeito de São Paulo e tirou fotos sentado na cadeira do alcaide.

Um mundo de fotografias foi espalhado pelos quatro cantos de São Paulo.

Aí começou a apuração. Voto a voto, urna a urna, e Janio, o decadente, o bêbado, o velho, o humilhado, venceu de uma ponta a outra.

Fernando Henrique ficou com cara de tacho, igual a viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido.

E o mais hilário aconteceu no dia da posse. Antes de sentar na cadeira do prefeito, Janio Quadros cuidou ele mesmo de dar uma banho de detefon no gabinete.

Por isso, amigo velho, não ache impossível qualquer coisa em política.

Até agora, em política, só não se viu boi voar, mas o resto…

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1 Comentário

  • Reply Chico 25 de outubro de 2018 at 06:24

    A história de Robson e Domingos Mendonça eu vivi,o slogan era trabalho a semana e voto no Domingo, ele ganhou mas não lhe deram a governabilidade por represália e turma do governo lhes tomou o mandato e botou Damásio Franca que ocupava a secretaria de desenvolvimento e obras públicas do governo estadual e interferia descaradamente na gestão municipal.

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