Os mais antigos dão crédito ao fato, os mais novos põem dúvidas achando impossível um homem de 78 anos conseguir levar quatro mulheres para um quarto e, mais que isso, dar conta delas.
Tendo, ainda por cima, bebido.
Mas, pelo sim, pelo não, conto como me contaram e deixo a critério do leitor acreditar ou não.
Aconteceu entre o final da década de 50 e a entrada da década de 60.
O cabaré de Princesa já funcionava na Rua da Lapa, a derradeira do Bairro do Cruzeiro para quem sai da cidade em demanda de Tavares.
Depois do cabaré havia uma descida de acesso ao Açude Macapá construído no início do século 20 pelo Coronel José Pereira Lima para combater a sede em tempos de estiagem e naquela época servia às putas para a lavagem dos particulares depois do uso.
Naquela manhã/meio de tarde de um chuvoso sábado o velho Porrondrongo chegou ao cabaré disposto a esquecer as dores nas juntas e os drifuços, também se dispunha a fazer tudo aquilo que não fizera durante a vida inteira por causa das proibições domésticas.
Sentou-se num canto de parede, mandou encher a mesa de cerveja espumante e convocou para os seus abraços quatro das melhores putas do lugar.
E mandou Mané Tocador arrochar no forró, pois, como ele disse, naquele dia o cabaré seria só dele.
Consumo exagerado, Socorro Rouca exultante com o lucro à vista, Porrondrongo bebendo, beijando e abraçando as moças e ela, Socorro, anotando tudo num caderno com os devidos acréscimos por conta dos juros e correções, eis que chegou a hora do bem bom. Agarrado às quatro, Porrondrongo seguiu para a alcova e de lá os curiosos só escutavam os gritos e gemidos de prazer.
Duas horas depois, saiu do quarto um Porrondrongo despenteado, acompanhado de quatro mulheres seminuas, andando com dificuldades, engembradas.
Terminara a festa e chegara a hora dos acertos.
Feita a soma e dito o valor, incluindo aí a despesa com os chibius das raparigas, Porrondrongo pediu a nota, colocou um lucro extra para agradar a dona do estabelecimento e mandou que ela cobrasse a despesa de Seu Mano, o candidato a prefeito.
Reinou confusão, desaforos, nomes feios, Cabo Amaro, o delegado, foi chamado às pressas, ouviu as queixas, escutou as reclamações de parte a parte e, na falta de um acordo, levou todo mundo à Delegacia.
Já nas dependências da Delegacia, Cabo Amaro deu a notícia que entristeceu Socorro Rouca:
– Minha senhora, cobrar de Seu Mano eu não recomendo, pois não existe autorização dele para este consumo. Prender o homem, também não prendo porque as leis do nosso país não consideram crime o sujeito comer e não pagar”.
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