Miguel Lucena
Os tanques de guerra hoje na Praça dos Três Poderes me trouxeram à mente um exercício militar feito no início dos anos 1970 em Princesa, Paraíba, a 440 quilômetros de João Pessoa, capital do estado.
Princesa era uma cidade silenciosa, com grandes movimentos somente em dias de feira e festas. Poucos carros, bichos andando por algumas ruas, meninos jogando bola em campos improvisados e seresteiros que, com ou sem instrumentos, faziam serenatas tarde da noite para suas paixões platônicas.
Ainda me lembro de Bosco de Lulu Cristóvão cantando músicas apaixonadas para Maria da Paz, cujo coração já havia sido arrebatado pelo tenente Ribeiro, um parrudo e atarracado, de olhos esverdeados, metido a valente.
Foi na semana que o tenente Ribeiro proibiu Bosco de cantar na Rua de Maria da Paz que os soldados do Exército pularam de dentro do mato dando tiros de festim para todo lado. Corri para dentro de casa pensando que o mundo ia se acabar.
Depois, fiquei sabendo que o vizinho Seu Elesbão, um homem de 40 anos que vivia se gabando de que não tinha medo de militares nem de comunistas, quase morreu de uma caganeira chamada pé ligeiro, e Astreço Massaroca deu um tiro na TV ABC, a voz de ouro, para mostrar que também era destemido.
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