Marcos Pires
Precisamos acabar com isso hoje. Precisamos voltar a ter Chico Buarque como unanimidade nacional. Precisamos voltar a acreditar que o exército não existe para apoiar um candidato, mas para defender uma nação. Precisamos olhar de frente os outros brasileiros, os vizinhos que vão votar contra a preferência alheia, os ex amigos que não podemos deixar de gostar só porque eles também se deixaram levar por esta loucura que envolveu o Brasil e está consumindo nossos amores, apagando a cordialidade que sempre nos animou.
Rodei uma banda do mundo nesses últimos dias. Em Lisboa, Londres e Amsterdam os garçons nos restaurantes, o concierge do hotel, até os motoristas de taxi, todos querem saber se Bolsonaro é bom ou se o PT volta ao poder, se Lula é realmente ladrão.
Essa irracionalidade generalizada está acabando com o que de melhor existe no Brasil, a cordialidade do povo brasileiro. Talvez vocês não possam notar porque estão no olho do furacão, envolvidos até o pescoço pela insana disputa. Mas de fora a visão é terrível. Quando eu digo de fora tenho duplo motivo; é que além de ter saído do pais para participar de duas maratonas ( Lisboa e Amsterdam) e poder ouvir dos gringos todo tipo de comentário e nenhum deles elogioso à situação desse segundo turno, meus amados leitores sabem que não voto em ninguém, e portanto fico a cavalheiro para me eximir dessas exacerbadas paixões que ou retratam interesses inconfessáveis e perigosos dos que querem se locupletar com o resultado da eleição presidencial ou, pior ainda, alienam os brasileiros ao ponto de haver briga entre a mesma torcida do Flamengo ou entre campinenses da gema, algo inconcebível quando sabemos que é na união que crescemos e nos fortalecemos.
Tenho a esperança e mantenho a fé que passado este trágico domingo reconstruiremos as pontes das amizades, as paixões cederão à razão e poderemos voltar a ter a mesma vida de sempre, maravilhosamente sem ódio e sem rancor.
Para tanto, preciso lembrar a vocês um ensinamento de minha mãe, Creusa Pires, quando me via chegar em casa, depois de uma briga na escola, muito “enfezado”, termo usado naquele tempo: “- Corra para fazer logo as pazes porque herói é o primeiro que reconhece o erro”. Bem a propósito, enfezado quer dizer cheio de … .
Vamos nos encher de compreensão, é bem melhor.
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