RAMALHO LEITE
“A Minha Impressão”, (14 dias na Parahyba) é o livro de Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, norte riograndense nascido em Martins nos idos de 1888. Viveu até 1948, tendo sido deputado estadual, vice-governador e substituto de Juvenal Lamartine entre 1928 e 1930. Eleito senador, é uma das vítimas do Estado Novo getulista. Foi prefeito de Natal, juiz, promotor e desembargador tendo sido colega de José Américo, na turma de 1908 da Faculdade do Recife. Em setembro de 1924 chegou de trem à Parahyba, hospedou-se no Hotel Globo e acompanhado de José Américo e João Suassuna, depois de ter audiência com o presidente Solon de Lucena, percorreu a nossa Capital e as obras do governo em andamento.
Já me ocupei de algumas referências às suas andanças pelo interior, percorrendo o traçado da Great Western. Onde parava o trem, ele fazia pousada e registrava os principais aspectos econômicos, políticos e sociais das comunidades visitadas. Foi até o fim da linha, demorando-se em Camucá e atravessando o túnel da viração, ainda sendo concluído, para chegar em Bananeiras e conhecer o Patronato Agrícola e a civilização do café, já em declínio.
Na Capital, admirou-se da efervescência da cidade, recebendo a primeira leva de canos para seu saneamento, calculou o estoque de mercadorias do comercio da Maciel Pinheiro, visitou o prédio da Associação Comercial, lamentou o desperdício de dinheiro público jogado no rio Sanhauá para a construção de um porto que nunca foi concluído e esteve em visita às obras da atual Colônia Juliano Moreira que foi motivo de sua admiração pela grandiosidade do empreendimento. E narra:
“Há em adiantado estado de construção, na Parahyba, um estabelecimento que, depois de realizadas as obras complementares que lhe são indispensáveis, será, no gênero, a cousa mais importante existente em todo o Norte do Brasil. Quero me referir a Colônia de Alienados. Os prédios já estão prontos e são dotados de amplas enfermarias colectivas, respectivamente para homens e mulheres. ….Boas instalações sanitárias, banheiros, áreas para passeios dos internados etc etc. O competente dr, Joaquim de Sá e Benevides que tem acompanhado e dirigido a construção da Colônia de Alienados e que de volta de uma excursão pelo sul do Brasil, apresentou substancioso relatório sobre o que se está fazendo a respeito no Distrito Federal, em São Paulo e no estado do Rio de Janeiro, seguiu, durante minha permanência na Parahyba, para o Rio de Janeiro, onde foi fazer acquisição de moveis e de todo outro material necessário ao estabelecimento”.(mantive a grafia da época)
Fiz questão de transcrever o texto para demonstrar que, em 1924, próximo à despedida de Solon de Lucena e eleito o presidente João Suassuna, a Colônia de Alienados já estava com seus prédios concluídos e comprando os móveis necessários, conforme narrou o ilustre visitante. Daí por que, o imortal Ariano Suassuna comete um equívoco quando coloca a Colônia Juliano Moreira entre as obras do seu pai, sucessor de Solon na presidência do Estado. Suassuna pode até ter inaugurado a obra, batizado com o nome do psiquiatra baiano, mas a construção já estava pronta quando ele assumiu o governo da Parahyba.
Restabeleço a verdade, em homenagem aos cem anos do governo do presidente Solon de Lucena.(1920-1924)
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