Juro que estou preocupado.
Ainda ontem perguntei a Chico Pinto se a senha dele vem antes ou depois da minha.
Mas a preocupação maior é com o pos morten.
Lendo o que andam dizendo sobre os nossos defuntos mais recentes, fico a me perguntar se isso acontecerá comigo também.
Nelson Coelho morreu de depressão.
Tinha câncer, é certo, mas a depressão ajudou a matá-lo.
Pois não é que Nelson virou herói depois de morto?
Fazia tempo que ninguém falava dele ou sobre ele. Uma vírgula sequer era escrita sobre Nelson. Jogaram o homem na vala do esquecimento e somente souberam da sua existência quando sua existência deixou de existir.
Logo Nelson, o amigo dos imortais da Academia Brasileira de Letras, o paparicado presidente de A União, o feitor de livros e presença obrigatória nas sessões literárias da terrinha.
Se bem que o destronaram da Academia Paraibana de Letras, porque na Academia Paraibana de Letras só entra quem é benzido pelos jasmins dos iluminados.
Mas agora Nelson é o tampa, é o amigo do peito, é o benfeitor, é o escritor, é o crítico, é o cão chupando manga.
Grande consolo para quem foi esquecido em vida e morreu de depressão.
Por isso estou preocupado.
Imagina se eu morro e aparece aquele povo que “me ama” hoje, dizendo que eu sou a bala que matou John Lennon!
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