MARCOS PIRES
Confesso que já passei algumas vergonhas com essa mania de dar a alguém um presente que recebi de outra pessoa anteriormente. Mas nada que se compare a Mãe Leca, que um dia recebeu de presente o que ela achou ser uma camiseta dessas básicas, para fazer atividade física. Nem se deu ao trabalho de abrir a embalagem porque já estava de saída para o aniversario de outra amiga. Simplesmente deu o presente que seria para ela originalmente. Ocorre que dentro da embalagem estava o cartão de oferecimento original, para ela.
Madame S. fez pior. Num determinado natal recebeu de uma nora um presente que ignorou solenemente (comportamento comum a algumas sogras) até a véspera do natal seguinte, quando juntou todos os presentes recebidos em diversas ocasiões e dos quais não gostara. Fez novos pacotes e saiu distribuindo pela família. Adivinhem quem recebeu o presente que a nora lhe dera no natal anterior? Quase deu em divorcio essa coincidência.
O Ministro Abelardo Jurema passou o Natal de 1964 exilado em Lima, sozinho, longe de toda a sua amada família. O dinheiro muito curto só permitiu que ele comprasse uns pares de sandálias de couro de lhama. Fez como pode um pacote desarrumado e conseguiu que um amigo que vinha para o Brasil entregasse o tal pacote em seu apartamento no Rio de Janeiro. Quem recebeu o tal pacote de manhã cedo foi Dona Maria, uma empregada meio surda e maluquinha que estava com a família há muito tempo. Ocorre que Dona Maria colocou a encomenda em cima do armário e continuou a faxina, sem dar noticia a ninguém do que ocorrera. À noite daquele mesmo dia 23 de dezembro um outro amigo do Ministro Abelardo estava indo para Lima e passou no apartamento dele no Rio de Janeiro para saber se havia alguma encomenda para o Ministro. Quem atendeu foi a mesma Dona Maria, que ligou os pontos encomenda, Ministro, Lima e entregou ao portador o mesmo pacote que recebera de manhã.
Em Lima o Ministro Abelardo amanheceu o dia de Natal com a notícia de que o amigo lhe trouxera uma encomenda de sua família. Sem dinheiro para um taxi, atravessou a cidade naquela fria manhã e pé, mas a saudade tornava o trajeto até prazeroso. Ao receber o pacote achou-o muito parecido com o que remetera. Voltou correndo para a pensão onde estava hospedado e abriu o pacote, onde estavam as sandálias que enviara. Muito tempo depois ele me contou essa (e muitas outras) história e naquela sua inconfundível voz, tomou mais um gole de uísque e desabafou: “- Ah, seu Pires. Eu pensei assim; que família ingrata, não fizeram nem um pacote diferente”.
Saudades do Ministro Abelardo e suas maravilhosas conversas.
1 Comentário
Diferentemente de muitas pessoas,
eu detesto ganhar presentes. E
não faço segredo disso pra ninguém.
Mas sempre tem alguém que se faz
desentendido e insiste. E pra tentar
cortar essas “gentilezas”, eu repito
o aviso de semore: você sabe que
não gosto de presentes, que não
vou usar e que vou dar a quem
precisa, não sabe?
O meu filho faz parte dos insistentes.
E para driblar a sua insistência, é sempre um desafio é tanto.
Ontem ele já começou a ladainha:
“mãe, o que você vai querer que
eu te dê de aniversário”? Aí, meu
Deus, vou ouvir essa reza até o
final do mês? Mãe tem aguentar
cada coisa!
Onde está escrito que todo mundo
é obrigado a gostar de receber
presente?
Os únicos presentes que eu adoro
receber são os que eu mesma
compro para mim.
Por que? É simples!
Só eu sei do que vou gostar no
momento que entro num shopping.
E às vezes pode ser algo simples
como um sorvete de pistache, ou
uns anéis de cebola. Pra que tanta
complicação?
Mas se me deixarem passar umas
120 horas dormindo, sem fazer
nada, sem preocupações , sem
ouvir bravatas pela televisão,
e nem discurso de um idiota, já
estaria de bom tamanho.