Normalmente a essa hora já estou no terceiro sono, mas hoje o sono está demorando a chegar por culpa das muriçocas. Elas estão mais nutridas e atrevidas. Chegam na maior cara de pau e tacam o ferrão, principalmente nas pernas. Some-se a isso o calor de lascar que está torrando a Paraíba de Cabedelo a Cachoeira dos Índios e há de se compreender o motivo da insônia.
Por culpa dela, da insônia, eis-me aqui acordado e tentando matar o tempo teclando no computador.
E enquanto teclo, passa na memória o filme da minha vida.
Ainda ontem sonhei com dois mortos: Luiz Otávio e Sebastião Barbosa. Com Barbosa eu comentava a cara boa de Luiz, no sonho vendendo saúde. E Barbosinha, fatídico: “Mas ele teve duas tromboses sérias”. De repente acordei e constatei que nem Luiz nem Barbosa estão mais aqui.
No tempo deles se fazia um jornalismo diferente. Para ser estrela o jornalista tinha que ralar, fazer nome, mostrar serviço. Hoje está mais fácil. Até analfabeto é estrela. Mas deixemos para lá. Se estão no estrelato é porque alguém os colocou lá.
O grande acontecimento da semana foi o caso de “Gota Serena” mostrando a bunda em Jacumã e ameaçando mostrar a frente se alguém achasse ruim. Eu não gostei de ver a bunda. E nem quero me imaginar vendo a presepada guardada na dianteira.
Tenho 72 anos completados em dezembro, sou, portanto, um cara viajado. Mas nem tanto. De repente, não mais que de repente, me descubro usado e abusado por pessoas até mais novas do que eu, porém mais inteligentes. E eu, descendo a ladeira, ainda sou tomado por ingênuo, Maria vai com as outras, etc e coisa e tal. Mas não foi por falta de aviso. Vavá da Luz, em tempos pretéritos, chamou-me a um particular para prevenir: “Aquilo não é teu amigo, está te usando”.
Vamos pra frente, a vida continua, nada como um dia atrás do outro com uma noite no meio e uma ferroada de muriçoca.
No mais tudo nos conformes, vou tomar uma lapada de alguma coisa e me deitar nos braços de Dona Cacilda. Com muriçoca e tudo.
Inté.
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