Marcos Maivado Marinho
Apesar de ter divulgado uma nota se eximindo de culpa pela troca de corpos no Hospital Pedro I, esta semana, a Secretaria de Saúde de Campina Grande não consegue esconder mais a negligência com que opera esse tipo de serviço, constrangendo famílias em um momento de caos motivado pela pandemia do coronavírus.
O caso atual, em que a família do paciente Antonio Pereira (63 anos), que morreu afetado por COVID-19, denuncia a troca de corpos no Hospital Pedro I, é apenas um lamentável filme repetido do acontecido em maio do ano passado no mesmo hospital quando uma família de Gado Bravo levou para sepultar um outro defunto que nada tinha a ver com a família enlutada.
Seu Antônio Pereira deu entrada no Hospital Pedro I com Covid, no dia 22 de fevereiro passado. No dia seguinte, o hospital deu alta informando que ele poderia ser tratado em casa com remédio. Dois dias depois, o homem retornou ao hospital após tosse e falta de ar e acabou ficando internado.
Ainda em fevereiro, dia 27, o hospital entregou o celular de Antonio Pereira alegando que ele iria para a área vermelha e que lá não poderia utilizar o aparelho. Porém, a família descobriu que ele estava intubado e em coma induzido. No dia seguinte a família tomou conhecimento de sua morte.
Quando familiares chegaram ao hospital descobriram que o corpo tinha sido enterrado pela família de Agostinho Alves dos Santos, que também morreu no local, e que teria reconhecido o corpo de outro parente.
Antonio Pereira foi enterrado por outra família, em Areia, mas em nota a Secretaria de Saúde responsabilizou o reconhecimento do corpo de forma errada por uma das famílias e informou que abriria sindicância para investigar o que classificou de “equívoco”.
A TROCA DE 2020
Na “troca” do ano passado a Secretaria de Saúde de Campina Grande também se eximiu de culpa na triste ocorrência e apontou que o reconhecimento presencial dos corpos foi feito pelas famílias, conforme determina o protocolo do hospital, argumentando que “a apreensão diante de uma possível transmissão da COVID-19, além do momento de luto” teria infelizmente contribuído para equívocos por parte dos familiares durante o processo.
O fato é que uma família do município de Gado Bravo passou por delicado vexame quando o corpo de um dos seus parentes foi trocado no necrotério da unidade, informação confirmada na época pela secretária de Saúde da cidade, Francielly Leal.
A funcionária de Gado Bravo explicou que devido ao restrito processo de reconhecimento dos corpos em decorrência da COVID-19 houve uma falha e a unidade de Saúde de Campina Grande acabou enviando o corpo de uma idosa, que também morreu no mesmo dia, para Gado Bravo a fim de que a família realizasse o sepultamento.
O corpo trocado chegou a ser sepultado ainda na segunda-feira de maio pela família do homem de 54 anos. Mas, na tarde da terça (26) a gerência do hospital entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Gado Bravo informando sobre a troca.
O corpo da mulher que na verdade era de Campina Grande, então, teve que ser retirado da cova onde havia sido sepultado e transportado por representantes do Pedro I de volta para a cidade, para ser entregue à verdadeira família.
A secretária de Saúde de Gado Bravo revelou que a situação foi constrangedora, mas a pasta deu todo suporte à família do homem, que era um dos dois moradores da cidade internados em Campina Grande após testar positivo para o novo coronavirus.
Diante de tão inusitada ocorrência, a nota da Secretaria de Saúde de Campina Grande lamentou profundamente, por fim, o ocorrido e garantiu que estava dando todo suporte às famílias envolvidas na resolução da situação, “otimizando também os procedimentos relativos à essa etapa de liberação de corpos das vítimas no hospital”.
Vê-se agora que nada foi feito no hospital para evitar esse tipo de situação e a NOTA da prefeitura campinense é apenas uma mera repetição de uma notícia triste e lastimável, a denuciar negligência da Pasta.
Segue a NOTA de agora:
NOTA – Secretaria de Saúde de Campina Grande
A Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande traz esclarecimentos a respeito do episódio em que um familiar cometeu equívoco, ao fazer o reconhecimento do corpo de uma vítima da covid-19, no Hospital Municipal Pedro I.
A sobrinha do senhor Agostinho Alves dos Santos identificou o senhor Antônio Pereira de Lima como sendo o seu tio. A própria sobrinha assinou o termo de reconhecimento.
A Secretaria de Saúde reforça que o reconhecimento do corpo é um ato extremamente importante e de responsabilidade do familiar. A Secretaria acredita que a pessoa possa ter cometido o engano, em função do estado de emoção, ao reconhecer o corpo.
Para realizar o procedimento com segurança, a pessoa recebe Equipamentos de Proteção Individual e é acompanhada por um supervisor da unidade hospitalar.
A Secretaria de Saúde informa, ainda, que está tomando todas providências para que os corpos sejam entregues às suas respectivas famílias, para realização do sepultamento.
Por fim, a Secretaria se solidariza com os familiares e esclarece que vai abrir uma sindicância para apurar possíveis responsabilidades de servidores.
1 Comentário
Vamos exercer o perdão minha gente. Estamos enfrentando um momento tão dificil, não menos para aqueles que trabalham todos os dias vendo essa tragedia de perto. Acho o momento improprio pra procurar culpados. As palavras pra o momento são : misericordia, perdão e compreensão.