O Riacho da Velha transbordou no mês de janeiro de 80. Água de canto a canto, cercas arrancadas, bichos carregados na correnteza. De há muito não se via uma cheia daquelas. Nem parecia um riacho, tinha cara de rio grande, do tamanho do São Francisco.
E pensar que o riacho começou de um veio d`água, de um jorrar mirrado, de uma mijada de velha.
Daí o nome, Riacho da Velha.
Conforme Assis Roberto contava para os seus admiradores em rodas de conversas na calçada do Bar do Peixe, havia apenas uma passagem encurvada no trecho entre Flores e Jericó, que não queria dizer nada, nem água juntava durante os invernos puxados.
Os carros diminuíam a velocidade quando passavam pelo local para evitar os catabios que tanto incomodavam as cadeiras das senhoras sentadas nas laterais dos jipes de Doutor Severiano e de Socó.
Numa noite de céu estrelado, a velha, cujo nome ele não lembrava mais, fazia o percurso para Jericó a pé, acompanhada de dois filhos. E na passagem encurvada da estrada se apertou, deu vontade de mijar.
Olhou para um lado, viu a cerca de avelós e temeu se abaixar para fazer as necessidades entre as galhas da cerca e se deparar com uma cobra. Do outro lado, a mesma coisa.
O jeito foi se aliviar ali mesmo.
Abriu as pernas, botou um mocotó de um lado, um mocotó do outro, baixou a calçola e mijou com força.
O jorrar do mijo foi tão forte que cavou o chão. E, além de cavar, formou correnteza de ladeira abaixo, molhando o que encontrava pela frente. Foi tanto mijo que chegou a inundar as roças plantadas ao derredor. E o mijo chamou a chuva e a chuva chamou a enchente e a enchente criou o riacho, que passou a se chamar Riacho da Velha
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