Ronaldo não pertencia as altas rodas, não frequentava as colunas sociais, as festas que ia não ostentavam os canapés dos grandes salões, era um simplório que gostava de ouvir programas de rádio, beber uma cachaça com tira gosto de bode e jogar conversa fora. Ronaldo também tinha um fraco por assuntos políticos e adorava analisar o desempenho dos candidatos a cargos eletivos.
O seu maior mérito, no entanto, foi encontrar um jeito de esconder os ridimuim do meu cocoruto.
Sim, caro leitor, Ronaldo era cabeleireiro. Fazia cabelo e barba, embora sua maior especialidade fosse o corte de cabelo, que fazia com magistral eficiência.
Tinha clientes diversos, desembargadores, juízes, jornalistas e o cabeceiro do Mercado Central, todos sentavam na sua cadeira, eram alvos de suas tesouradas e com ele dividiam os ensinamentos comuns aos salões de barbear.
Divergíamos em alguns assuntos, mas convergíamos no principal: chovesse canivete aberto e o chão empenasse, nada disso respingava na nossa amizade.
Uma amizade que durou até ontem à noite, quando um mal súbito o levou.
Edmilson meu irmão deu a notícia, achando que foi problema de coração.
Logo o coração, aquele que Ronaldo fazia questão de escancarar aos amigos e ao mundo.
Mais um que se mudou para outro mundo sem que eu pudesse dizer-lhe adeus.
1 Comentário
2021 será um dos anos mais sombrios da história.