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Ruas de saudades

5 de agosto de 2022

A cidade de João Pessoa guarda um pedaço do ontem que faz o visitante que pisa no seu chão sentir-se transportado ao passado, personagem de um tempo vivido pelos que hoje habitam a lápide fria do Boa Sentença.

É o bairro do Roger, perto do centro da cidade. Casas e casarões guardando o antigo como presente, o passado em nome do futuro, o ontem para a nostalgia do hoje. Janelas de madeira trabalhada, onde certamente a mocinha que depois se tornou avó se postava para ver o amado passar em caminhar de amor.

As ruas são estreitas, como estreitas eram as ruas de antigamente. Em tudo se respira saudade. Até os que nasceram depois, feito eu, sentem-se personagens daquele tempo, moradores daqueles tetos, seresteiros daquelas sacadas de valsas e chorinhos de cavaquinho.

A igrejinha, com suas torres cor de rosa tem no alto de uma delas os dois sinos que ainda repicam aos domingos chamando os fiéis para a missa matinal. E nos dias de tristeza, tocam finados avisando que o Roger ficou com um morador a menos.

Na esquina da rua próxima, onde o menino corre atrás da bola, atrapalhando o caminhar do vendedor de manguzá com seu galão de comida nas costas, a mulher vende bolo de festa e salgadinhos com sabor de quero mais.

O cachorro preguiçoso caminha pelo calçamento irregular, ciente de que ali carro nenhum vai atrapalhar seu rumo.

Casais de velhinhos sentam-se nas calçadas das casas, de mãos dadas, olhando o por do sol e lembrando com a saudade própria de quem viveu aquele momento infinitas vezes.

É um pedaço de passado, ainda preservado, que vive ileso à sanha imobiliária da cidade, graças ao esforço dos próprios moradores, nativos e adotivos feito Vital Farias. E que deve permanecer assim, mesmo que a cidade toda se transfira para o mar, como vem acontecendo. Garanto que do Roger não haverá desertores.

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