Cacilda Lucena
Em 23 de março de 2020 cheguei com a família, esposo e filho, a uma cidade do interior para nos afastarmos desse desconhecido vírus. A pandemia tinha sido decretada, a situação causava pavor e por recomendação médica chegamos a morada de passagem, até que tudo fosse explicado, resolvido, que soluções fossem tomadas e que a nossa vidinha retornasse ao normal.
Ledo e infantil engano. A situação piorou, cresceu a quantidade de pessoas infectadas e os óbitos nos amedrontando. O mundo lutava pelo desconhecido e alertava para os cuidados que deveríamos ter, e passamos a viver outra dimensão de vida: máscara no rosto, álcool em gel, álcool a 70% liquido para borrifar tudo ou quase tudo, passei a dar banho em frutas, verdura, com bastante sabão, banho em embalagens de alimentos e em outros borrifadas de álcool embebedando tudo.
Nunca em minha vida imaginei dar banho em inhame, batata doce, banana, etc, e que ia embebedar as embalagens dos alimentos. O coitado do nosso carro toma tanto banho de álcool e lysoform que acho que o mesmo me odeia por esse horroroso hábito que adquiri, as mãos estão tão enrugadas de tanto lavar, tenho a certeza que adquiri um comportamento de toque. Dou banho nas solas dos sapatos com álcool, coloco no sol, as roupas são lavadas com tanta constância que estão perdendo a cor e ficando fubentas. E o pior: não tenho coragem de sair pra comprar peças de substituição.
Nesses dias só restarão os elásticos das cuecas do marido e das calçolas kkkkkkkk, é séria essa situação.
Na minha infância, por conta dos recursos poucos, tínhamos a mania de colocar prego na sandália havaiana pra ela durar mais, e não é que aos meus 63 anos me peguei fazendo isso com a minha sandália que quebrou a correia! Só vamos a algum lugar se for de extrema necessidade. Não sendo, o delivery nos acode.
Quando isso irá passar, não sei.
A pergunta é: será que saberei andar por aí, fazendo as coisas de antes? Tenho a sensação que vou recomeçar tudo.
Gente, veja o que o medo faz: se por acaso surgir uma dor de cabeça, uma dor de garganta, uma tosse inesperada, eu já arregalo os olhos e falo “puts”, o coroca me pegou! É uma neura que não controlo. Espero que, quando tudo passar, eu ainda tenha um restinho de miolo.
4 Comentários
Dona Cacilda vou lhe dar uma dica para consertar a correia do chinelo quando quebrar em vez do prego leve as duas pontas ao fogo quando esquentar cola uma na outra
Dona Cacilda, a senhora é uma
mulher feliz: consegue rir até
da tragédia.
Você sem querer descreveu a rotina aqui em casa.
O perigo é furar o dedo com o prego.