Memórias

SAUDADE DE JOÃO PESSOA

25 de dezembro de 2019
Tião Lucena
Eu ainda alcancei a João Pessoa pacata, provinciana, que nos permitia andar a pé pelas suas ruas, altas horas da noite, sem o medo de encontrar assaltante pela frente. De vez em quando aparecia algum ladrão besta, que somente assaltava por necessidade. Sim, havia o tarado do compasso que aplicava inocentes furadas com a ponta de um compasso nas bundas das mulheres que andavam pela lagoa, mas não passava disso. O mais violento que a crônica registrava morava para as bandas de Santa Rita e atendia pelo nome de Pedro Corredor, um tarado que comia as mulheres e depois matava. Dizem, porém, que Pedro Corredor foi uma criação de Enoque Pelágio para ganhar audiência na Arapuan.
Claro que tínhamos nossos assassinos em série, a exemplo de Humberto Paredes, que matava os casais de namorados e depois jogava ácido nos corpos para dificultar a identificação, mas ele era único, tanto que facilmente identificado. Havia também os filhinhos de papai que matavam motorista de táxi na Churrascaria Bambú, contudo eram tão inocentes que mataram e hoje posam de executivos, autoridades, pessoas de bem, com mandato eletivo e tudo o mais.
Mas, como disse, contava-se nos dedos os criminosos e estupradores. Dava para andar de noite pelas ruas e vê-los a tempo de procurar um esconderijo que evitasse o fatal encontro.
Agora, não. Em toda esquina reina o medo, as casas viraram prisões, os sinais de trânsito abrigo de assaltantes, as esquinas escuras esconderijo de estupradores, tarados, bichas loucas querendo sexo e dinheiro fácil.
Alcancei o tempo dos cabarés, bares bem decorados guardando meninas vendendo amores e perfumes. Hoje os cabarés estão transferidos para as esquinas da praia, da elite. As putas, que ganharam o inocente nome de meninas de programa, vendem-se abertamente em todas as ruas, paradas de onibus, hotéis cinco estrelas. E não são mais as raparigas sofredoras que entravam na vida porque dela foram expulsas. São moças letradas, universitárias, bem nascidas, bem criadas, filhas com papai e mamãe vivos, andando de carro com ar condicionado e tudo o mais. Virou profissão chique na João Pessoa de hoje, sem aquele gosto de pecado mofado que se tirava na bacia de estanho depois de usado nas caladas da Maciel Pinheiro.
Conheci aquela João Pessoa tranquila e dela tenho saudade. Ela era mais família.

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3 Comentários

  • Reply cicero de lima e souza 25 de dezembro de 2019 at 11:57

    Velho amigo, lembro-me de V I L M A, uma morena de 1.75, labios grossos e todo resto do seu corpo F O R M I D A V E L.
    Muito bom. Muito bom.

  • Reply Cavalcanti 25 de dezembro de 2019 at 19:23

    Velhos tempos que saudades

  • Reply Antonio Mariano 27 de dezembro de 2019 at 13:49

    Sem falar nos garotos de programa bem criados e que comem gente da elite e famosa

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