opinião

Sem brisa

26 de novembro de 2023

Edson Vidigal
As interrupções noturnas já me são pontuais,
previsíveis como notas musicais
catadas em harmonia
n’alguma partitura.
O som em cada momento varia
em volumes e intensidades,
ora um dó maior lento ou um ré menor mais suave ou um mí para vocal de quarteto, Quarteto em Cy ou um inesperado fá de fagote ou um sol rascante de sax ou um lá suavemente saído da palheta de um clarinete ou um si bemol das cordas de um cello bondosamente invasivo, mas sempre bem-vindo.
Tudo assim num compasso quase que de hora em hora,
o olhar no escuro, os ouvidos entreabertos
sob a batuta do mesmo de sempre,
o invisível, o indivisível maestro Prostático!
A cada nota nesse ensaio peregrino
uma bolinha de papel
no mesmo lugar do chão.
De manhã me pego a cata-las, a conferi-las
e enfim saber quantas vezes a cada noite me fui súdito dessa necessidade imperiosamente fisiológica a fazer-me de robô,
receptador do meu sono, mas fiel zelador do amanhecer enxuto dos lençóis.
Ensaios que não tem preço.
Dia seguinte, todo dia, por volta do meio-dia, cambaleio e despenco no sofá mais próximo.
Só por algum instante. Por algum instante,!Maestro!

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