Marcos Pires
Agora que sou especialista em sobreviver a um acidente que custou a utilização (graças a Deus provisória) de uma das mãos, vou listar a seguir algumas dicas para vocês que mesmo não querendo poderão seguir meu caminho principalmente em virtude da idade, porque se tem uma coisa que nós, velhos, teremos em comum à medida que o tempo passa e teimamos em continuar vivendo são as quedas.
A primeira e mais importante dica é: não caia e não quebre nenhum osso.
Tirante essa hipótese, o mais é pau puro. Principalmente se você é solteiro ou mora só, como é o meu caso. Juro que vale a pena nesses momentos desistir do celibato ou da solidão. Coisas simples tornam-se verdadeiros desafios ao tentarmos fazê-las com uma única mão. Poderia dizer da dificuldade de dar um laço no cadarço do sapato ou na gravata até sentir-se impotente por não poder abrir uma garrafa de água mineral.
Porém o exemplo perfeito é tentar ensaboar o sovaco que corresponde à mão sã. Claro que eu desenvolvi toda uma estratégia para tomar banho e na vanguarda está o ensaboamento da axila inalcançável pela mão fora de uso. Primeiramente tentem (com o tempo vocês conseguirão) molhar o sovaco com a mão que está ao final do braço onde se encontra a axila a ser lavada. É coisa difícil porque nem todos nascemos com a compleição do homem borracha. A seguir insiram o sabonete no sovaco e faça movimentos indo e vindo, se é que vocês me entendem. Depois é mais fácil. Só não esqueçam de ter um estoque avantajado de sacos plásticos para isolar a mão que está com os curativos.
Esses sacos vocês vão conseguir pedindo aos caixas das farmácias e supermercados. E assim a coisa vai evoluindo.
Na sequência das atividades diárias eu tive duas sacadas para facilitar o banho; um suporte de plástico duro que adira ao antebraço como uma pulseira e onde se possa colocar o sabonete na ponta de uma haste ligada à tal pulseira. Aí será a alegria dos sovacos. Outra ideia bem simples e que evitaria os seguidos pedidos de sacos plásticos seria a feitura de uma luva de plástico folgada para cobrir os curativos da mão enquanto no banho. Ideias geniais, hem? Essas coisas ainda não existem, mas como a necessidade é a mãe da inventividade, pensei até em fabricar as luvas e o suporte do sabonete e ficar milionário. Só que eu teria de abandonar o nadismo. Aí já seria demais.
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