opinião

UM GAÚCHO SERTANEJO

26 de junho de 2022

RAMALHO LEITE
O Palácio do Governo da Paraíba que já fora denominado Palácio da Presidência e, não era ainda da Redenção, passava por mais uma reforma, nos idos de 1930. João Pessoa, o presidente, despachava em uma dependência do jornal A União que ficava, então, à esquerda da praça Comendador Felizardo, hoje, João Pessoa. Seu ajudante de ordens era o coronel Elísio Sobreira que também respondia pelo Comando da Polícia Militar. De repente, chega à antessala do gabinete improvisado, um galego bem vestido, de gravatinha de laço, voz estridente e sotaque estrangeirado, apresentando-se: Jacob Guilherme Frantz. Disse a que vinha: “Eu vim para a Paraíba participar da luta de Princesa e gostaria de saber o que devo fazer”. Consultado, João Pessoa mandou avisar que não dispunha mais de nenhum posto comissionado na Polícia, para lhe oferecer. O voluntário ponderou que não falara em comissão nem em dinheiro, estava ali por idealismo e no propósito de ajudar ao governo. Era reservista do Exército e aceitava alistar-se como soldado raso. Neste mesmo dia, Jacob Frantz, como seria conhecido no Estado, deixou o Hotel Globo onde se hospedara e, já dormiu no quartel da PM. No dia seguinte, 29 de abril de 1930, viajou com o coronel Sobreira em direção à zona de conflito onde a polícia enfrentava os rebelados do coronel José Pereira.
Chegando ao Batalhão Provisório da Polícia Militar instalado em Piancó, o gaúcho foi incorporado às tropas na posição de terceiro sargento e, por ser reservista, passou logo a segundo. Claro que não foi bem recebido na soldadesca. Era um tipo diferente e, em meio à rudeza dos paraibanos, sua voz metálica soava fora de tom. Duvidavam da sua capacidade e da sua coragem para enfrentar os seguidores de Zé Pereira. Foi preciso que a sua tropa fosse a primeira a pôr os pés em Manaíra (antiga Alagoa Nova) e a sua bravura testada, para ganhar o respeito dos seus pares. Depois dessa ação belicosa,  Jacob foi promovido a segundo tenente. Estava ainda em Alagoa Nova quando chegou a notícia da morte de João Pessoa.
Após a morte de João Pessoa um contingente do Exército foi mandado para Princesa. O presidente Álvaro de Carvalho, todavia, preocupava-se em manter a autonomia do estado e chamou à capital o capitão Emerson Benjamim, que trouxe o tenente Jacob em sua companhia. Receberam, então, a incumbência de organizar um pelotão especial para policiar o município, já com os ânimos serenados. José Américo, Secretário de Segurança, recomendou que levassem o maior número possível de homens entre oficiais e praças escolhidos. A revolução da Aliança Liberal estava às portas. O tenente Juarez Távora fizera desta Capital sua morada clandestina. Temia-se que as tropas do exército se juntassem aos rebelados de Zé Pereira. O Capitão Benjamim esteve com Juarez e levou instruções, por escrito, a alguns militares de sua confiança. Sua tropa de mais de trezentos homens chegou a Princesa quando o coronel Zé Pereira já perdera as esperanças e, avisado da próxima deposição de Washington Luiz, deixara os seus pagos.
Consolidada a chamada Revolução de 30, Jacob Frantz, depois de percorrer parte do nordeste, regressou à Paraíba e se preparava para bar baixa na Polícia e regressar ao seu Rio Grande do Sul, quando foi chamado pelo coronel Elísio Sobreira. O interventor Antenor Navarro estava no propósito de nomeá-lo prefeito de São João do Rio do Peixe que, depois, chamar-se-ia Antenor Navarro. Em 22 de dezembro de 1930, tomou posse como prefeito. No ano seguinte regressou à Capital e recebeu nova missão do Interventor: organizar uma Guarda Cívica que tinha a tarefa de proteger o interventor e evitar sua deposição, fruto de um movimento encabeçado por dois oficiais renomados: os capitães João Costa e João Mauricio. Queriam substituir Antenor por Odon Bezerra. Instituída a nova Guarda, Jacob foi promovido a primeiro tenente. Com a morte de Antenor Navarro em um desastre aéreo, assumiu o governo da Paraíba o jovem Gratuliano de Brito, que nomeou Jacob Frantz para seu Ajudante de Ordens. Mais adiante, Argemiro de Figueiredo repetiria o mesmo gesto.
Jacob Frantz voltou em 1934 a dirigir os destinos do município de Antenor Navarro. Foi ainda prefeito de São José de Piranhas e de Pombal designado por Argemiro e Rui Carneiro, respectivamente. Finalmente, por eleição, novamente, chegaria à prefeitura de Antenor Navarro nos anos 1960.
Em 1960, na memorável campanha vencida por Pedro Gondim, Jacob Frantz foi candidato a vice-governador na chapa de Janduhy Carneiro. Antes, porém, foi deputado estadual e federal, secretário da Agricultura e do Interior e Justiça. Nesta última, no governo de João Agripino, fui assessor do seu gabinete. Foi uma honra conviver com esse cavalheiro, um gaúcho que virou paraibano e se tornou um grande sertanejo. (Consultei trabalho do imortal Dorgival Terceiro Neto)

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