O jornalista Gonzaga Rodrigues, de talento inquestionável, chega perto dos 90 anos nos devendo um romance.
É virgem nesse ramo da literatura.
Justamente porque nem todo mundo sabe escrever um romance.
Quem nasceu com o destino traçado de romancista revela-se logo cedo e romanceia como se estivesse degustando um prato de cuscuz com bode na feira da Torre.
Zé Lins, que morreu cedo, já era romancista imortal antes dos 40.
E puxando mais pra perto, veja-se Aldo Lopes, o maior entre os maiores da Paraíba, ficcionista de primeiro time, um verdadeiro colecionador de prêmios.
Eu completei 70 anos e só me aventurei uma vez nesse campo de literatura. Fiz um “Peste e Cobiça” sofrível, embora o próprio Aldo e o editor de todos nós, Arnaldo Afonso, garanta que o livro presta.
Mas continuo sendo um candidato a romancista que jamais passará desse posto. Um eterno postulante, sem talento para realizar o sonho acalentado na caixa do juízo.
Conheci Aldo menino, na seca de 70, ele esgureijando a sapiência poética de Elizeu Guabiraba nas noites de insônia e eu ali também fazendo a mesma coisa, só que mais taludo, mais andado, mais viajado.
Aldo aportou na cidade grande e de repente apareceu com seus contos fantásticos. E chegou ao romance com dois excelentes “O Dia dos Cachorros” e “A Dançarina e o Coronel”, ambos premiados nacionalmente e editados pela Bagaço, a maior editora do Nordeste.
Agora Aldo escreve um livro de contos.
O neto de Ronco Grosso, hoje aposentado da delegacia de puliça do Rio Grande do Norte, planeja fixar residência outra vez em João Pessoa, a cidade mais linda do Nordeste no dizer dele e dos turistas.
Só que quente, não se comparando ao frio que dói nos ossos da Serra dos Bernardinos, onde Aldo construiu uma casa para sentar no alpendre e ficar espiando Princesa, Manaíra e Triunfo lá embaixo.
Que venham logo os novos contos de Aldo. E enquanto não chegam, fico chamegando com o excelente “As Fronteiras de Perdição” que Emanuel Arruda acabou de tirar do forno.
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