RAMALHO LEITE
Quando entrei na Assembleia Legislativa da Paraíba, encontrei o deputado José Fernandes de Lima como líder da oposição. Eu tinha sido vereador pela antiga UDN, partido do meu pai. Com a extinção das agremiações renegadas pelo regime militar, a ARENA tornou-se o meu partido. Renovei meu mandato em 1982, na mesma legenda do ilustre filho de Mamanguape, e quedei-me sob sua liderança. No mandato seguinte, o elegemos Presidente, e eu assumi a liderança do PMDB e do Governo. Em 1991, deixamos juntos a Casa de Epitácio Pessoa. Eu segui o governador Burity no PRN e na canoa furada de Collor. Zé Fernandes permaneceu onde sempre esteve. Os partidos podiam mudar de nome, mas a sua posição era a mesma. Até, quando as forças mais conservadoras do país se acolitaram sob o manto dos militares, o usineiro Zé Fernandes preferiu a oposição e nela se fez respeitar.
O passeio a esse passado recente, vem a propósito da sessão especial da Comissão de Cultura e Memória do Poder Judiciário, promovida pela desembargadora Maria de Fátima Bezerra Cavalcanti para homenagear o Centenário de Nascimento do Historiador José Fernandes de Lima. O ponto alto do encontro foi o lançamento do livro do imortal Marcos Cavalcanti de Albuquerque sobre o homenageado e suas raízes mamanguapenses. A obra retrata a trajetória dos irmãos Fernandes, com destaque para a transformação do Engenho Guarita, na imponente Usina Monte Alegre, que, até hoje, em mãos de outros gestores, é uma das maiores geradoras de emprego e renda do Vale do Mamanguape.
A solidez econômica do grupo familiar e o respeito conquistado junto à sociedade paraibana, projetou muitos dos seus membros na política partidária, e dois deles, os irmãos João e José, chegaram a governar a Paraíba. O primeiro em substituição a José Américo de Almeida, nomeado Ministro de Vargas, e o segundo, no lugar de Pedro Gondim, (vice do enfermo governador Flavio Ribeiro) que renunciara para ser candidato. Zé Fernandes assumiria ainda o governo, como substituto eventual de Burity.
A lição de Zé Fernandes: “O líder da bancada deve ser o primeiro a chegar e o último a sair do Plenário”. Ele cumpria fielmente esse preceito e costumava ficar na ultima fila da bancada, para barrar os que tentavam burlar a sua vigilância durante a realização das sessões. Dois dos seus pupilos, os atuantes deputados Ruy Gouveia e Bosco Barreto, costumavam dar uma fugidinha ao bar de Dona Chiquinha, a poucos passos da Assembleia. Quando voltavam, devidamente abastecidos, se revezavam em virulentos discursos contra o governo militar. O líder, preocupado, apenas ironizava:
– Ninguém controla esses meninos…Eles tomaram várias doses de “coragem cívica”… ( Recebi da Academia de Letras do Vale do Mamanguape a Comenda José Fernandes de Lima, razão dessa republicação)
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