Marcos Pires Se eu tivesse o engenho e a arte de um Agnaldo Almeida com certeza já teria procurado a família do Dr. Dorgival Terceiro Neto para sarar essa chaga da nossa história. Lembro de uma belíssima homenagem que este Correio da Paraíba fez ao meu professor, iniciativa do patrão Roberto Cavalcanti. Mas estou me referindo a algo mais profundo. Um escrito que comece contando a infância sacrificada, os caminhos percorridos, os cargos que ocupou sempre dignificando-os e que não esqueça de referenciar as histórias que protagonizou como Governador, Advogado, Professor e Prefeito. Chegava bem cedo à prefeitura, onde um solitário faxineiro varria as calçadas com um vassourão. Nos primeiros dias tratou de eliminar os ociosos e incompetentes. Perguntava o que o servidor fazia e as respostas eram incríveis; um colecionava diários oficiais, outro era ajudante do sujeito que servia cafezinho e por aí afora. Naquele jeito despachado, à medida que ouvia essas aberrações ele ia demitindo todos. Um conhecido jornalista que assistiu à cena, temendo por seu cargo, quando perguntado sobre o que fazia lá, foi rápido no gatilho: “- Ah, Doutor, aqui eu faço tudo o que o senhor mandar”. Salvou-se da degola. Com o tempo uma senhora descobriu seu costume madrugador. Toda manhã esperava o Prefeito chegar e pedia um emprego para seu marido, porque não tinham um pau pra dar num gato. No terceiro dia, com aquela “paciência infinita”, Dr. Dorgival ouviu novamente o pedido, chamou o solitário varredor da calçada, tomou-lhe o vassourão, quebrou-o na perna e estendeu o cabo para a mulher: “- Minha senhora, emprego não tem, mas tome um pau pra dar no gato”. Ainda na prefeitura um dia ele convocou toda a imprensa para registrar um fato singular. É que uma senhora que morava em Cruz das Armas queria doar à Bica um macaco que perturbava muito a vizinhança. “- Senhores jornalistas, essa é a única pessoa que entrou aqui para dar alguma coisa ao Município, porque só vem gente querendo tirar.”. Brilhante Advogado, com ele aprendi a verdadeira contagem dos prazos processuais. Quinze dias para fazer uma apelação? Cento e vinte dias para impetrar um Mandado de Segurança? Qual o quê! Todos os prazos resumiam-se a um só; um dia. Não há prazo perdido, né? Aprendi também a melhor definição de alguém sem futuro: “- Isso não é gente. Trata-se de uma hipótese!”. Ah, Professor, nesse mundo cheio de hipóteses como o senhor faz falta!
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1 Comentário
É verdade. Exerceu, com ética e competência, todos os cargos públicos para os quais foi nomeado. Ouvi de um auxiliar seu, quando prefeito de João Pessoa, que ” Doutor Dorgival Terceiro Neto é maior do que o cargo de prefeito…”, tamanha a sua proficiência, acrescento eu. Teria sido um excelente Ministro da República, se tivesse aceito o (em) cargo da pasta da Reforma Agrária. Além de tudo isso, Dr Marcos, ele é autor de bons livros. Que o seu legado seja referência para todos nós, sobretudo … Que Deus o tenha na Sua glória. Amém!