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Uma crise para chamar de sua

22 de agosto de 2020

 

 

Frutuoso Chaves

“E eu com isso?”. O direito à pergunta está negado a quem se pretenda razoavelmente informado acerca dos fatos do mundo. Sobretudo, se disserem respeito à prisão de um sujeito como Steve Bannon, o estrategista da campanha que levou Donald Trump à presidência da maior potência bélica e econômica do planeta.

No tempo em que vivemos, tudo está conectado. Uma tempestade – na expressão real ou figurativa do termo – nos afetará o bolso, caso ocorra nos centros de importação e exportação de bens e produtos, ou os rumos, se abalar as estruturas do sistema político.

E isso não é de hoje. Em plena expansão do programa de biocombustíveis, questionei um usineiro sobre a disparada dos preços do açúcar servido à mesa dos paraibanos. Quis saber por que algo cultivado e processado aqui, com mão de obra local, era submetido à cotação internacional de preços.

Resposta do moço: naquele momento, era mais lucrativo produzir álcool. Ou seja, em razão da lei da oferta e da procura, a queda da produção açucareira nos deixava, de repente, o café mais amargo. E o mesmo fenômeno poderia ocorrer em sentido inverso, houvesse crise no setor alcooleiro. Trocando em miúdos, de Washington a Coxixola é o cidadão comum quem paga essas e outras contas.

A prisão de Bannon (acusado de subtrair dinheiro de campanha para um muro na fronteira EUA/México) bole com a sorte de quem por outras razões com ele se envolveu. Não se duvida, portanto, de que há muita gente com pesadelos em línguas diversas, português no meio. Condenado, o moço abrirá o bico em busca da redução da pena. E já se espera que as delações tenham repercussão no caso Brexit (a saída britânica da União Europeia), no mercado de fake news, na de Trump e em outras eleições.

Em meio a esse terremoto, revi “Grande demais para quebrar”, o filme que revela os bastidores da crise financeira de 2008 para a qual Wall Street arrastou o mundo. É obra com base no livro do jornalista Andrew Sorkin.

Nesse filme (com direção de Kurt Hanson), um conjunto de atores competentes encarna figurinhas carimbadas do cenário político e econômico mundial, a exemplo do ex-secretário do Tesouro americano Henry Paulson, de Jamie Dimon (CEO do JP Morgan), Dick Fuld (do Lemon Brothers), Lloyd Blankfein (do Goldman Sachs) e John Mack (do Morgan Stanley), entre outros mais e menos cotados.

Impagável a cena que reproduz um Henry Paulson de joelhos a suplicar o apoio de Hillary Clinton ao plano de injeção de 125 bilhões de dólares no sistema bancário dos Estados Unidos.

E ela, irônica: “Henry, eu não sabia que você era tão católico”. Mas contribuiu para aprovação da mutreta com a entrega aos tubarões da vultosa parcela de recursos decorrentes da cobrança de impostos, enquanto milhões de famílias perdiam suas casas e amargavam o desemprego dentro e fora dos Estados Unidos.

Firmado o negócio, uma assistente de Paulson lastimava, estarrecida: “Demos 125 bilhões para solucionar a crise que esse pessoal provocou e o fizemos sem impor nenhuma restrição ao uso desse dinheiro porque, se impuséssemos, eles recusariam”. E outro mais perguntava: Eles vão emprestar esse dinheiro, não vão?”.

Ah, os capitalistas… Privatizam lucros e socializam prejuízos. Quando necessário, invertem a máxima popular: perdem alguns dedos para a salvação dos anéis. O sistema se salvou, em 2008, com poucas baixas. No caso Bannon, é bom notar, os dedos são muitos.

 

 

 

 

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2 Comentários

  • Reply Eduardo 22 de agosto de 2020 at 12:19

    Já que não conseguem acusar o governo Bolsonaro de corrupção, vamos ligar o governo a um caso lá dos EUA. Pensei que idiotice tinha limites.

  • Reply Matheus 23 de agosto de 2020 at 11:29

    Danou-se com todas as rachadinhas, conta nos cartões de crédito da família, imóveis pagos em dinheiro (37)dispensa de dívidas no setor automotivo, agropecuária, devastação da Amazonas, educação sem educação com polícia vigiando o pensamento crítico dos cidadoes, etc etc etc a pessoa ainda defende este governo louco, perseguidor, nada constrói, só destrói todas as nossas conquistas. É gostar de tomar no toba mesmo.

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