RAMALHO LEITE
Continua a caminhada de Joaquim Ignácio pelas ruas da nossa Capital nos idos de 1924. Seu melhor passeio foi na companhia de João Suassuna, já eleito para o período que sucederia ao presidente Solon de Lucena; Walfredo Guedes Pereira, o prefeito e, José de Almeida, como ele tratava seu colega de turma José Américo. Antes, o político e escritor norteriograndense já estivera no Colégio das Neves, na Igreja São Pedro Gonçalves e no Convento de São Francisco. Encantado com o nosso parque barroco, mostrou-se o visitante preocupado com “a fúria iconoclasta de uma certa casta de renovadores por toda parte, nas capitais e no interior, destruindo, com a mais criminosa inconsciência, muitos monumentos desta arte antiga….e aproveitou para rogar às autoridades de então (já naquele tempo) “que o Convento de São Francisco com seus interessantes entalhamentos em madeira, o Cruzeiro com o seu pezado e cyclópico pedestal, os seus gansos talhados em rocha, sejam preservados da destruição…”
Na ilustre companhia dos citados paraibanos, Joaquim Ignácio deslumbrou-se com as grandes planícies de Trincheiras, Jaguaribe e Tambiá “onde se encontram ainda vastas extensões de terreno para construção.”. O prefeito Guedes Pereira levou-o ao parque Arruda Câmara e à Lagoa. O lago à época era fonte de preocupações da cidade, um verdadeiro “pezadello” para os gestores municipais tendo em vista a ameaça à saúde pública provocada pela agua estagnada e sem escoadouro. E conclui o narrador: “a Lagoa está completamente saneada e exgottada por um túnel…Será um dos mais aprazíveis logradouros da cidade em breve tempo.”. Decorridos quase cem anos, a mesma lagoa ainda causa problemas e algumas dores de cabeça…
Sem retorno, porém, ficaram os gastos astronômicos jogados no Sanhauá na intenção de se fazer um porto. “Uma sensação de desalento invade logo o espirito de quem quer que ali passe, no primeiro momento. Essa sensação, bem o creio, é comum a todos os corações parahybanos”. A soma de energia e de capital dispendidos naquele porto fluvial, segundo registra a história, foram desviados por afluentes inconfessáveis. O hóspede do Hotel Globo conjecturou que, o que se investiu no rio, daria para fazer um cais em Cabedelo, local que permite aportar navios de maiores calados. (Sua profecia foi concretizada e Cabedelo hoje é o nosso ancoradouro)
Em função desse porto inacabado e do comercio florescente, era no Varadouro que se registrava a maior movimentação da cidade. A condução se fazia por carroças “puxadas por muares, caminhões invariavelmente do typo Ford, que transitam a cada instante do caes para a cidade, partindo da Estação da Estrada de Ferro, das imediações da Alfandega e da casa Vergara”. Mas o que chamou de “couza mais importantes existente em todo o Norte do Brasil” foi a construção da Colônia de Alienados, em fase final, cuja denominação atual – Colônia Juliano Moreira, foi dada pelo presidente João Suassuna, que a inaugurou.
Aqui faço uma correção de justiça: deve-se ao presidente Castro Pinto a iniciativa de mandar projetar o saneamento da Capital. Buscou Saturnino de Brito, que era diretor desses serviços no Recife e o mandou projetar a obra. O presidente Camilo de Holanda voltou-se para a expansão urbana da cidade relegando a segundo plano a necessidade daquele projeto. Ao assumir, Solon de Lucena comunicou de imediato à Assembleia a obra como sua prioridade pois “reputo uma das maiores senão a maior de nossas necessidades…a maior aspiração do meu governo… Que considero inadiável.” O mestre escola que chegou a Presidente da Parahyba conseguiu um empréstimo interno e iniciou as obras, confiadas ao citado Saturnino de Brito e depois ao engenheiro Baeta Neves, cedido pelo governo de Minas Gerais.
O político e escritor potiguar trazia uma carta de apresentação do governador José Augusto Bezerra de Medeiros dirigida ao nosso presidente Solon de Lucena. Recebido em Palácio, o visitante impressionou-se, de logo, com a debilidade do homem que governava a Parahyba. Ouviu-o por mais de uma hora discorrer sobre os problemas que enfrentava, “com uma eloquência especial que não era feita d´este verbalismo ôco, muito do agrado dos rhetóricos incorrigiveis, porque brotava, como a agua que vae cahindo naturalmente das fontes, do intimo de um organismo, profundamente identificado pela inteligência e pelo coração com as mais palpitantes necessidades do seu povo”.
Do seu encontro com paraibanos que enriqueciam aquela época, destaco o comentário sobre José Américo. Depois de dizer da sua alegria pelo reencontro, pois foram colegas de turma no Recife, indaga: “Conhecem o José de Almeida? É um esquisitão, sofrendo de myopia, a pendurar constantemente um pince-nez incommodo, u’a alma de grego. Já tiveram por acaso, oportunidade de saborear umas destas suas chonicas, apanhadas ao acaso? …É, porém, um escritor sizudo, escrevendo sobre coisas mais prosaicas com brilho e muito colorido; é o homem, profundamente identificado com as necessidades de sua terra, que nos aparece, agora, ruidosamente em uma brochura de grande tomo e valor”. Referia-se ao lançamento do livro “A Parahyba e Seus Problemas”. ( Mantive nas transcrições a grafia da época.) CONTINUA.
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