Gonzaga Rodrigues
Surge um sinal alvissareiro de aber
tura ou de meio alívio na recomendação
da autoridade americana de se poder
baixar a máscara, certamente nem em
todas as suas regiões.
Vacinando, dá.
Ricos, ainda os mais ricos do planeta,
à hora em que chegou um governante que
considerasse a imunização questão de
vida e morte, o resultado veio à tona. Di-
nheiro não faltou e, bem mais importan-
te, a vontade firme e, com perdão da má
palavra, autoritária. Nesses casos tem de
ser autoritária, quando a vida humana
está em jogo.
Os Estados Unidos, pe-
las condições imperialistas
particulares da ciência e
tecnologia que desenvol-
vem, e, claro, dos meios de
acioná-las, nos apavoraram
a todos, a povos de todos os
níveis, quando se deixaram
dominar pelo inimigo in-
visível, ainda hoje sem ori-
gem. Os americanos come-
çaram a desconhecer o seu presidente.
Ora, que nação do mundo moderno
tem sido mais destemida, até agresso-
ra, sobrando ânimo, ambição e tesouro
para, plena de si, arvorar-se em senho-
ra e interventora de outras nações?
Para sustentar guerras onde perigue o
seu interesse?
E foi esse país, de virose subestima-
da pelo seu chefe e líder, incrivelmente o
que chegou a manter recordes incontro-
láveis nas cifras de morte! O que vai ser
de nós que dependemos dos insumos ex-
ternos para produzir a defesa vital? Nós,
os brasileiros do “agro é tudo”, mas situa-
dos em pesquisa muito aquém da expec-
tativa dos indianos de cultura milenar.
É incompreensível, fora do mais ele-
mentar entendimento, a subestima insis-
tente da autoridade brasileira, a mais alta
delas, no enfrentamento da pandemia. E
nisso, historicamente, regredimos. Não
só no combate à poliomielite, com vitó-
ria de repercussão universal, como nas
tantas epidemias e endemias cuja natu-
reza é não dar trégua ao nosso resistente
cuidado. O próprio Ministério da Saúde,
tutelado pela herança de Oswaldo Cruz,
tem sido um guardião exemplar e exe-
cutor fiel de um modelo de política, a do
SUS, que só não vai mais longe porque as
condições sociais da grande maioria, mal
paga e faminta, não cedem.
A fome ainda é a nossa mais insidio-
sa e grave doença, invisível
como o vírus para essa mi-
noria que passou a escritu-
ra e o registro em cartório
da riqueza e dos bens vitais
deste país. Existem brasilei-
ros comendo lixo, se abaste-
cendo nos lixões, resgatan-
do embrulhos apodrecidos
em disputa com tapurus.
Até a Globo vê isso, desvian-
do alguns segundos de seu caro e precio-
so tempo.
E o que se vê? Já arrastando os pés,
sem puder dissimular certa debilidade
física, o presidente Biden, sem perder de
vista o forte olhar da vice, começa a per-
mitir aos gringos o retorno ao american
way of life tão famoso.
O nosso país de tantas necessidades,
como provam as próprias megalópoles
onde milhões e milhões se espremem e
se despejam nos transportes de massa,
ainda assim daria para cortar onde so-
bra – e sobra muito – e salvar metade ou
mais dessas 430 mil vidas jogadas fora
dos cemitérios.
É desgraça demais para não comover
um presidente eleito e os que ainda insis-
tem em acompanhá-lo.
Transcrito de A União
Sem Comentários