opinião

    Velhos hábitos

12 de janeiro de 2020

Marcos Pires

              Antigamente esse negócio de político ser corrupto já existia, mas por incrível que possa parecer praticava-se a corrupção num nível tão baixo e tão discreto que o povo sequer tomava conhecimento. O mais comum era o politico conseguir que seus eleitores mais ricos doassem camisetas ou pagassem a impressão do material de propaganda. Outros cediam um carro para a campanha ou uma casa para servir de comitê. E isso era legal, mas havia as exceções, obviamente.

           Certa vez uma alta autoridade mandou seu “faz tudo” pegar uma caixa numa grande empresa. O jovem, recém enfronhado na política, estava construindo sua primeira casa a duras penas. Intuiu que naquela caixa havia dinheiro. Quando entregou ao patrão a encomenda, discretamente começou uma conversa de cerca Lourenço. Disse que estava em dificuldades, que precisava pagar o piso da construção e ao final abriu o peito: “- Excelência, me parece que naquela caixa que eu fui buscar tinha dinheiro. Será que o senhor poderia me dar um pouquinho para aliviar minha barra?”. A Excelência fulminou o jovem com um olhar repreendedor e atacou: “-Menino, você pensa que eu sou besta? Com certeza você já tirou um bocado do dinheiro antes de me entregar a caixa”. O “faz tudo” jurou pela mãe e pela vida que jamais fizera aquilo, que era honesto e coisa e tal. A autoridade então bateu a mão na mesa e gritou: “-Pois você está demitido, menino. Gente burra não trabalha comigo”. A bem da verdade o garoto continuou na função e consta que aprendeu muito com o mestre.

             Tem também a história daquele outro “faz tudo” de outra alta autoridade que sempre ia buscar as tais contribuições de campanha. Esse era mais experiente do que aquele rapaz anteriormente referido e sempre tirava uns 2% de tudo que arrecadava. Só que aproximando-se da eleição a excelência o chamou e mandou procurar um grande empresário que estava com duas malas para entregar. Precisava ser rápido porque as tais malas seriam remetidas com urgência para o exterior. Tempos depois o auxiliar confessou: “-Aquele foi meu pior momento, porque não tinha como calcular 2% e retirar para mim. Então eu tive uma brilhante ideia: tirei uma mão de dinheiro de cada mala e deu certo”.

             Como disse meu colega escritor Millor Fernandes, negociata é todo bom negócio no qual não te incluíram.

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