Vida boa é a do vizinho, sempre foi, sempre será. A nossa, por melhor que seja, sempre terá um defeito, um pecado, uma falha. Por isso o olhar de inveja que muitas vezes dirigimos ao vizinho sortudo, de boa vida, de vida boa.
Somos, por assim dizer, uns mal-agradecidos.
Temos saúde, comida na mesa, crédito na praça, mas continuamos achando que o vizinho vive melhor.
E quando nos lembramos dos amigos mortos, que dariam tudo para estar no lugar da gente, ainda assim teimamos em achar que eles descansaram, estão no céu ao lado direito de Nosso Senhor Jesus Cristo, sem perder tempo com a raia miúda que por aqui ficou.
De vez em quando me pego com sentimentos assim.
E imediatamente me belisco, mudo de assunto e bato na mesa os três toc, toc, toc para afastar a boca de praga, o azar e a tentação do capeta.
Já fiz terapia, mas a minha psicóloga fugiu da raia, me abandonou na metade do caminho. Os motivos ela não declinou, mas garanto que não foi por falta de pagamento. Acho que ela encheu o saco de tanto ouvir as minhas queixas sem sentido.
Hoje, por exemplo, comecei a me achar velho. E não sou. Estou na flor da idade, em pleno vigor dos meus 72 janeiros. Mas comecei a me achar.
E houve motivo para isso.
É que, vindo pela estrada, parei o carro no acostamento, encostei-me num belo pé de aroeira, puxei a velha companheira de andanças mil, botei pra fora a cheia do Rio Grande do Sul e somente na hora de guardar o que foi tirado descobri que, em vez da rola, puxei o ovo.
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