– Chico tá bem de vida, engordou! -, dizia João de Oliveira se referindo ao conterrâneo recém chegado de São Paulo.
Num tempo em que de gordo na cidade só existiam duas pessoas – o comerciante Rafael Rosas, dono da melhor padaria da região e Cícera Gorda, de prendas domésticas -, engordar durante a permanência em São Paulo significava estar bem em tudo, na saúde, nas finanças e no amor.
E chico chegou chiando. Desceu do ônibus com um enorme rádio gravador três em um da ABC, bem vestido e de chapa nova. Até hoje eu lembro da pedida dele na bodega de Luizinho, para delírio do Cancão em peso:
-Oh Luizinho, desce aí uma ixkol!
O sonho da riqueza fácil em São Paulo e dos quilos a mais levou quase a metade do Cancão para a terra de Maluf. Ainda estão por lá vários companheiros de juventude, a exemplo de Zé Lambreta, dos filhos de Lúcio Fráuzio, dos filhos de Eva, dos meninos de Miguel Raiz…
Dos lá de casa toparam o desafio paulista os irmãos José e Edmilson. José foi na frente, dirigindo um caminhão da Camargo Correia. Aboletou-se em São Paulo e até casa própria adquiriu. Edmilson seguiu no rastro e ficou por lá uns anos. Depois voltaram, ficaram em João Pessoa. José morreu novo, antes dos 70. Edmilson continua por aqui, já é avô, engordou, se deu bem no Nordeste, melhor do que nas planícies paulistas.
Eu me admiro ter conseguido andar de Princesa a João Pessoa. Sempre fui preguiçoso, acomodado. E se não fosse a decepção pelo emprego prometido e tomado às vésperas da posse, eu jamais teria pegado a estrada para a Capital, que me viu chegar num junho de 75 para nunca mais me devolver.
O andarilho da família sempre foi o caçula Miguel.
Veio para cá ainda menino, estudar. Aqui se enfronhou no jornalismo, virou comunista, viajou pelo mundo, foi bater em Cuba.
Na terra de Fidel, ele e Peninha conheceram umas morenas bonitas, se apaixonaram, encheram a cara, se deram ao desfrute das intimidades, mas terminaram bebendo o Boa Noite Cinderela e, quando acordaram, depararam-se com o bilhete dirigido ao caçula dos Lucena: “Migueli, para não me olvidares”.
E levaram tudo. Os meninos ficaram só com a roupa do corpo. E só retornaram à Paraíba porque fizemos uma vaquinha e mandamos o dinheiro da passagem.
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