opinião

VIOLÊNCIA URBANA: DECIFRA-ME OU TE DEVORO

14 de janeiro de 2024


Por GILBERTO CARNEIRO

 

DIFÍCIL imaginar o que passa pela cabeça de um ser humano para entrar armado em um shopping center e matar uma pessoa inocente por não ter lhe concedido uma oportunidade de emprego. A lição que fica é que a humanidade está doente precisando urgentemente se reinventar para se libertar das doenças da alma que afligem tantos seres humanos.

Quando acontecem tragédias dessa natureza aparecem logo aquelas figuras que acham que possuem as soluções para combater os problemas da segurança pública apresentando propostas extremistas e radicais, na linha do “bandido bom é bandido morto”.

Logo, me veio a mente um personagem do cartunista Quino criado durante a ditadura militar argentina que fez grande sucesso e até hoje é apreciado: Mafalda. Inteligente e questionadora, a cada dia dava lições a todos sobre temas do dia a dia, apesar de ter apenas seis anos. As tiras em que eram publicadas pareciam trazer historinhas para crianças, mas apresentavam lições para os adultos. Mafalda foi um sucesso mundial, tendo sido traduzida para mais de 30 países. Em um episódio, Manolito, um amiguinho de Mafalda filho de imigrantes galegos, lhe perguntou, reproduzindo a mediocridade de um certo senso comum: “Por que no matamos las personas malas? Asi quedaríamos solamente las buenas”. Mafalda respondeu, de bate-pronto: “No, Manolito. Asi quedaríamos solamente los assassinos”.

Recentemente tive oportunidade de ler um artigo articulado e fundamentado no site do canal MyNews de autoria de Cid Benjamin com o título: Violência urbana: decifra-me ou te devoro. O autor traz uma reflexão sobre a onda de violência que assola cidades latino-americanas e das formas de enfrentá-la, como está acontecendo mais recentemente no Equador, quando notícias de rebeliões em presídios e a ocupação de uma emissora de TV por grupos de bandidos impressionaram o mundo. Na linha de raciocínio do professor esse quadro de violência faz com que supostas soluções, como a apresentada por Manolito a Mafalda, ganhem novos adeptos. É o que ocorre, por exemplo, em El Salvador, onde está em curso a principal experiência de aplicação dessas propostas extremistas, sob a batuta do presidente da República, Nayib Bukele. Matérias publicadas pelo jornal “O Globo”, citando relatórios de organizações independentes, informam que a autodenominada “guerra contra as gangues” prendeu cerca de 70 mil supostos bandidos sem ordem judicial ou sem flagrante desde que foi adotada, em março do ano passado — o que significa cerca de 1% da população do país. Muitos deles foram depois mortos na prisão, onde a tortura passou a ser coisa corriqueira. Leis de exceção foram renovadas por iniciativa do Poder Executivo 15 vezes consecutivas. Relatório do ano passado, publicado pela Human Rights Watch em parceria com a ONG Cristosal, afirma que de 58 mil detidos em oito meses, pelo menos 1.600 são crianças e adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos.

Não é de hoje que a violência urbana preocupa a sociedade brasileira. No entanto, existe uma série de variáveis que é preciso levar em consideração, uma delas é o problema da desigualdade social em nosso país. São mais de 33 milhões de pessoas passando fome e 70 milhões em situação de insegurança alimentar e com um índice de quase 10% de desempregados, o que representa quase 10 milhões de pessoas à procura de emprego.

A tragédia ocorrida esta semana em um shopping center aqui de João Pessoa abalou a cidade e revelou a fragilidade na segurança desses estabelecimentos comerciais. Porém ao invés de se propor medidas alvissareiras e extremistas poderia se adotar uma bem simples, um vereador ou deputado propor uma legislação que estabelecesse a exigência de detectores de metais nestes centros comerciais, e lógico, a Câmara ou Assembleia, ou mesmo o Congresso aprovar. Bom, ao menos seria um começo …

 

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