opinião

VISITANDO O LIVRO DE TOMBO

31 de dezembro de 2023

RAMALHO LEITE

O monsenhor José Pereira Diniz, vigário da Paróquia de Nossa senhora do Livramento até aposentar-se, era uma figura polêmica, como já fiz ver em textos anteriores.Mas era um apaixonado pelo que fazia. Também tomava partido pelas boas causas e cuidava de proclamar sua satisfação. O médico Clovis Bezerra que começou sua faina em Bananeiras, pelos idos de 1936, recebeu desde sempre o apoio do vigário. Até quando precisou pedir votos, teve a ajuda discreta do padre. Em carta que registrou no Livro de Tombo, em 28 de dezembro de 1936, dirigida ao Chefe do Posto de Higiene, padre Zé Diniz escreve:
“Já houve quem afirmasse que a função do médico é um sacerdócio do corpo, correlato ao sacerdócio da alma, que é mister especial do padre.Enquanto, o ministro da Religião pensa as feridas morais profundas que corroem o espírito e matam as reservas vivas do coração; o médico, integrado no seu papel, dedica-se ao trabalho caridoso de curar as chagas, os males do organismo humano, contribuindo, dest’arte, para estabelecer a felicidade temporal na sociedade, despertando, pela saúde, no arrimo desfalecido dos que sofrem, a alegria irreprimível de viver.Se existe o sentimento de gratidão, este deve ser tributado àqueles que nos fazem o bem. E se apóstolos do bem são os peregrinos do evangelho, que se imolam na asa da abnegação, para alcandorar as almas ás alturas sobrenaturais da sua finalidade suprema. Igualmente, deve-se predicar dos que se dedicam ao serviço da humanidade e sacrificam-se pelo bem estar físico do seu semelhante.”
Todo esse nariz de cera na abertura da carta, tinha o propósito de reverenciar o trabalho do médico, não de todos, mas especificamente do futuro prefeito, deputado e governador da Paraíba, Clovis Bezerra. Por isso, acrescenta o pároco: “ Todos nós, em Bananeiras, exceção feita aos eternos descontentes, descobrimos na vossa operosidade funcional, sempre em prova, um verdadeiro sacerdócio no cumprimento fiel dos seus deveres….E o que V.S. tem realizado no Posto de Higiene de Bananeiras, não se argumenta, se vê.Depreende-se daí, o motivo desta simpatia com que os vossos beneficiados ao lado dos vossos verdadeiros amigos cercam a pessoa bondosa de V.S. em toda a extensão territorial de Bananeiras….queira pois, o distinto amigo,aceitar de minha parte, um abraço de parabéns e o meu voto sincero de louvor pelo grande bem que está realizando como chefe do posto de higiene da nossa Bananeiras”.
Nomeado prefeito de Bananeiras pelo interventor federal, desembargador Severino Montenegro, dr. Clovis permaneceu pouco mais de dois meses administrando a cidade.Foi exonerado pelo seu primo Odon Bezerra Cavalcanti, ao assumir, interinamente, a Chefia do Executivo paraibano. Na reconstitucionalização do País, eleição de 1947, ambos foram eleitos deputados constituintes. De Bananeiras, três representantes, se contarmos com o areiense que se fez político longe de casa, Pedro Augusto de Almeida. Este, responsável por famosa polêmica com o padre Zé Diniz. Chegou a representar contra o padre na Diocese mas este conseguiu provar que eram infundadas todas as acusações contra sua pessoa. Tudo está registrado: acusação e defesa.
Prefeito e vigário brigavam por tudo. Frei Damião de Bozzano passou algumas semanas em Bananeiras realizando suas Santas Missões. Terminada sua tarefa, voltaria ao Convento dos Capuchinhos, no Recife. O padre mandou comprar a passagem de trem para o frade. Pedro de Almeida foi ao Moreno e alugou, com a ajuda da população católica, um veiculo, para deixar o missionário no Recife, acusando o padre de não ter piedade do capuchinho, já àquele tempo com a coluna vergada.
Com Clovis Bezerra, porém, o padre nunca brigou. Não se cansava de proclamar sua idoneidade moral e cívica, a exemplo da carta acima transcrita.

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1 Comentário

  • Reply Edmundo dos Santos Costa 31 de dezembro de 2023 at 16:05

    HÁ PROFISSIONAIS DA FÉ – PADRES, PASTORES PUXADORES DE APLAUSOS E GASGUITEIROS EM CARROS DE PROPAGANDA – PREFERINDO A OPULÊNCIA DOS SALÕES DO PODER E AS COZINHAS DOS SEUS DONOS, RESERVANDO ÀOS POBRES A “HONRA” DE FAZER AJUNTAMENTOS CONCLAMADOS PARA MOSTRAR CAPACIDADE DE LIDERANÇA PERANTE AQUELES QUE POSSUEM AS CHAVES DAS PORTAS DOS COFRES DE DÁDIVAS “DIVINAS”. NÃO GOSTAM E NÃO RECOMENDAM A LEITURA “DAS MEMÓRIAS DO PADRE GERMANO”, NEM APRECIAM O EXEMPLO DE VIDA E MORTE DO FREI CANECA. JÁ NEM FALO DO CRISTO, FALAR DELE E DOS SEUS ENSINAMENTOS BÁSICOS PODERÁ DESAGRADAR AOS QUE SE IMAGENAM DONOS DOS DOCES E CONSOLADORES “COFRES CELESTIAIS” E ÁOS GUARDIÕES DOS SEUS SEGREDOS E ACESSOS.

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