Você conhece um “amigo da onça”?

Meu amigo Chico estranha porque não está acostumado. Eu estou. E nem estranho mais.

Já estive lá na crista da onda várias vezes. Já subi e já desci tantas vezes que não me emociono nem quando subo, nem quando desço.

Lembro da vez que, depois de longo e tenebroso inverno, fui chamado pelo prefeito Chico Franca para ser seu secretário.

Nem bem tomei posse, tocou o telefone e a moça de voz aveludada fez o convite:

– Sou secretária de Seu Fulano. Ele quer almoçar com o senhor.

Esse amigo súbito fazia anos que não me dirigia a palavra. E diante de tão emotivo convite, não tive outra alternativa senão dizer:

– Diga a ele que me convide em janeiro, quando eu deixar de ser secretário.

Antes, bem antes, eu na crista da onda, com coluna no Correio e ganhando bem, tinha casa de quatro águas no Cristo e todo sábado abria as portas para o churrasco que Barbosinha assava com sabor de quero mais. A casa vivia cheia. Mas o Correio me demitiu, eu tive que vender a casa, o carro foi junto, me mudei para uma casinha alugada em conjunto da Cehap e o pessoal esqueceu meu endereço.

O tempo passou. Dia desses, secretário de Ricardo Coutinho, algumas figuras não podiam botar os pés em João Pessoa que tratavam logo de me ligar para avisar que queriam uma foto abraçadas comigo.

Quando Ricardo deixou o Governo e eu deixei o Governo que o sucedeu, as ligações findaram, as fotos morreram e tomo conhecimento da presença desses ardorosos fãs ao ver seus retratos nas redes sociais com seus novos amores.

Preocupado, enciumado?

De jeito nenhum. Estou amando, adorando e achando bom.

Esses jamais foram amigos meus.

Eram os “amigos da onça”.

Quando muito, eram tolerados. E enchiam meu saco.