Tenho boas e más lembranças do Correio da Paraíba. As boas garanto guarda-las no baú da minha saudade. As más, jogarei no lixo. Aliás, já as joguei faz tempo.
Trabalhei ali em diferentes épocas. Ainda alcancei o Correio de linotipo e quase falido. A redação era formada por Bosco Gaspar, Sebastião Barbosa, Abmael Morais e eu. Eu levava as notícias de política e invariavelmente ganhava a manchete de primeira página, que Abmael fabricava com ares de sensacionalismo.
Sim, havia Varandas falando de sociedade. O resto era na base da tesoura. Bosco recortava os jornais do sul e fotolitava para encher o Correio de linguiça.
Voltei com Adalberto Barreto, depois saí para um breve retorno ao jornal do governo, para onde fui debelar um incêndio na chefia de reportagem. O chefe se apaixonara por uma estagiária e, como era casado, teve que sair para evitar um escândalo. Gonzaga me chamou e eu de pronto fui.
No Correio dos atuais donos pontifiquei na sua época de sangue, vi de perto a morte de Paulo Brandão, me aventurei com Luiz Otávio nos programas de rádio e da lá saí por duas vezes enxotado por não ter mais serventia.
Não vou lamentar o fechamento do jornal porque isso já era esperado. Jornal de papel tem os dias contados. O jornal de papel dá a notícia de ontem, os portais dão a notícia do agora. A concorrência é desleal. E não tem jeito que dê jeito.
O Correio segue os passos de O Norte e do Jornal da Paraíba. A União sobrevive porque é do governo e cuida de coisas em desuso nas redes sociais: cultura. Os portais ficam com o fuxico, A União enleva seus leitores com textos que os levam a refletir. Agora mais pobre com o afastamento inexplicável de Gonzaga e de Sitônio, os dois que me faziam procurar o jornal dia sim, dia não, para me deliciar com os seus textos.
Que tenha um bom descanso, é o que desejo.
7 Comentários
Tião, está fazendo frio aí em Bananeiras durante a noite ?
está. Ontem procurei a pinta e ela havia sumido.
O engraçado é o dono do Correio em coluna hoje dizer que o fechamento foi por culpa do coronavírus, especialmente por causa dos decretos do governo do estado e da Camara sob a quarentena…é para rir mesmo.
A morte era certa desde 2016, quando o concorrente Jornal da Paraíba, com muito mais “carvão”, entregou os pontos. Mas os donos acharam que se tirassem Dilma, prendessem Lula e o Mago os problemas do Correio da Paraíba estariam resolvidos. É provável que, com o fechamento do jornal, o Sistema perca relevância, como ocorreu com os Diários Associados na Paraíba. Para terminar, se tem uma coisa que o Correio não tem é gratidão pelos que construíram o Império que agora se arruína. Vai três que me vem agora à mente, mas deve ter muito mais: Tarcísio Burity, que articulou a compra do Correio pelos atuais donos, quando foi vítima dos tiros no Gulliver não encontrou o apoio do Correio; a família Cunha Lima, que transformou um pequeno grupo de comunicação no maior do Estado, depois foi perseguida pelo Correio até a cassação do mandato de governador de Cássio Cunha Lima; Tony Show, que encheu os cofres do Sistema com rios de dinheiro, foi enxotado de forma vergonhosa quando não tinha mais serventia.
E Luiz Otávio?
Quem não lembra dele em vários programas da emisora tecendo elogios a dupla Bolsonaro/Guedes?
Aos novos tempos que viriam?
Cadê o paraíso que vislumbrava?
O seu jornal naufraguou com a bandeira do neoliberalismo hasteada.
Só lamento pelos funcionários.!
Falar em gestão com ideologia não dava.
Mas ele bem poderia ter aproveitado a oportunidade para fazer uma autocrítica e até pedir desculpas à população.