opinião

Yes, we speak english!

7 de abril de 2025

por Miguel Lucena

O princesense Zé de Lourenço não estudou no Fisk nem fez intercâmbio em Brighton, mas falava inglês com a autoridade de quem aprendeu ouvindo Elvis no rádio de pilha e vendo western dublado na matinê. “Olha pro sky, oh my love, veja como ele está beautiful”, dizia, peito estufado, olhos na donzela de saia rodada, acreditando que o charme morava nas sílabas misturadas.

Em Princesa, na Paraíba, isso era suficiente pra virar lenda. Zé era o professor do “portuglês” – uma língua franca do sertão globalizado, onde “my horse tá com sede” e “vamo ali buy um picolé”. Nos bailes, arriscava um “you dança comigo?”, e não raro saía de mãos dadas com alguma moça encantada pelo sotaque estrangeiro, mesmo que inventado.

Hoje, vendo políticos tropeçarem no “pop corn and ice cream”, lembro de Zé de Lourenço: um diplomata sertanejo, com vocabulário dificultoso e coração bilíngue. Porque, no fim das contas, o amor também fala errado — mas todo mundo entende.

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