Zé Limeira, conhecido como Poeta do Absurdo, nasceu no sitio Tauá, em 1886, e faleceu em 1954, assustado com o barulho de um trem. Teve um custipio e caiu duro. Era um negrão de quase 2 metros de altura. A cidade onde nasceu , Teixeira, estado da Paraíba, foi o principal reduto de repentistas no século XIX e onde a viola teria sido usada pela primeira vezcomo instrumento de cantoria, lá pelos idos de 1840. Vivente até o ano de 1954, não há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas pelejas sumiram ou se deterioraram.
A Seguir Alguns Trechos dos Versos de Zé Limeira
“Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada.”
Zé Limeira quando canta
Estreme o cariri
As estrelas trincam os dentes
Leão chupa acabaxi
E sete dias adispois
Estoura uma guerra civi.
…….
Frei Henrique de Coimbra
Sacerdote sem preguiça
Rezou a primeira missa
Na beira de uma cabimba
Um índio passou-lhe a pimba
Não deixou ele rezar
Assou carne de jabá
Misturou com queresone
Que um bom pescador não teme
As profundezas do mar.
……….
As tantas da madrugada
O vaqueiro do prefeito
Corre alegre e satisfeito
Atrás da vaca deitada
Sem vida, decapitada
Com a rabada pelo chão
A desgraça de Sansão
Foi trair Pedro Primeiro
Viva o aboio do vaqueiro
Nas quebradas do sertão.
……..
Adão de barro amassado
E Eva de uma costela
E Adão in riba dela
Fez o primeiro pecado
E depois de ter gozado
Foi ver o gosto lá dento
O mundo ficou cinzento
E o céu ficou azul
Deu-lhe uma cãimbra no cu
Diz o velho testamento.
…..
“Uma véia gurizada
Pra mim já é fim de rama,
Um véio Reis da Bahia
Casou-se em riba da cama,
Eu só digo pru dizê,
Traga o Padre pra benzê
O suvaco da madama.”
“Jesus foi home de fama
Dentro de Cafarnaum,
Feliz da mesa que tem
Costela de gaiamum,
No sertão do cariri
Vi um casal de siri
Sem comprimisso nenhum.”
“Napoleão era um
Bom capitão de navio,
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo,
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio.”
“Meu verso merece um rio
Todo enfeitado de coco,
Boa semente de gado,
Bom criatoro de porco,
Dizia Pedro Segundo
Que a coisa melhor do mundo
É cheiro de arroto choco.”
“É difícil um home moco
Aprendê pornografia,
Um professor de francês
Honestamente dizia:
Tempo bom era o moderno,
Judas só foi pro inferno
Promode a virgem Maria.”
“São Pedro, na sacristia,
Batizou Agamenon,
Jesus entrou em Belém
Proibindo o califom,
Montado na sua idéia,
Nas ruas da Galiléia
Tocou viola e pistom”.
“Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça:
Com treze ano de idade
Discutiu com a doutoriça,
Com trinta ano depois,
Sentou praça na puliça.”
“Saíram lá de Belém
Cristo e Maria José,
Passaram por Nazaré,
Foram Betelelém,
Chupô cana num engem,
Pediu arrancho num brejo,
De noite armuçou um tejo
Lá perto de Piancó,
Na sexta-feira malhô
Foi que Judas vendeu Jésus!”
“Jesus saiu de Belém,
Viajando pra o Egito,
No seu jumento bonito,
Com uma carga de xerém,
Mais tarde pegou um trem,
Nossa Senhora castiça,
De noite Ele rezou Missa
Na casa dum fogueteiro,
Gritava um pai-de-chiqueiro:
Viva o Chefe de Puliça!”
“Eu me chamo Limeirinha,
Nascido lá no Tauá,
Entre casca de angico,
Miolo de Jatobá,
Bico de pato vadio,
piscilone, zeazá.
“Aonde Limeira canta
O povo não aborrece,
Marrã de onça donzela
Suspira que bucho cresce,
Velha de setenta ano
Cochila que a baba desce!”
“Onde eu canto de viola
O povo chama São Braz,
A otomosfera agita,
Fica catingando a gás,
Polda de jumenta nova
Rincha de cair pra traz.”
“Carmelita e Carmeluta
É tudo uma coisa só;
Carmeluta é pro chambrego,
Carmelita é pro xodó,
È prato de pirão verde
Com xerém de mocotó,”
“Um General de Brigada,
Com quarenta grau de febre,
matou um casal de lebre
Prá comê uma buchada…
Quando fez a panelada
Morreu e não logrou dela,
Porco que come em gamela
Prova que não tem fastio,
Peixe só presta de rio,
Piau de tromba amarela.”
“Cantador pra cantar com Limeirinha
É preciso ser muito envernizado,
Ter um taco de chifre de veado
E saber decorado a ladainha,
Ter guardado uma pena de andorinha,
Condenar pra sempre o carnaval,
Guardar terra de fundo de quintal
E é preciso engrossar o pau da venta,
Beber leite de peito de jumenta,
Ediceta, pei-bufo, coisa e tal!”
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Jesus nasceu em Belém
Conseguiu sair dali
Passou por Tamatai, por Guarabira também
Numa viagem de trem
Foi parar num entroncamento
Não conseguindo aposento
Dormiu na casa de um Cabo
Comeu cuscuz com quiabo
Diz o novo testamento
O velho Tomé de Souza
Governador da Bahia
Casou -se, e no mesmo dia
Passou a pica na esposa
Ele fez que nem raposa
Botou na frente e por trás
Chegou na beira do cais
Onde o navio trafega
Comeu o padre nobrega
E os tempos não voltam mais
O zé limeira que de fato existiu não é o que corresponde à criação de Orlando Tejo, Otacílio Batista e outros amigos. É um personagem fictício. Aliás, um grande personagem. Indico alguns documentários existentes, depoimentos de outros cantadores, etc. Tudo pode ser encontrado no youtube.