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Irerê, na Baixa Verde, onde a memória e a história não merecem o menor respeito

2 de julho de 2018

O lugar ainda é bonito, cercado de verde, o Pico do Pau Ferrado, com seus 1.090 metros disputando com o Jabre de Maturéia o lugar de mais alto do Estado, continua enfeitando a sua moldura, e os casarões, os poucos que ainda restam, testemunham, a muito custo, a fartura e o progresso que um dia fizeram parte da rotina de Patos de Irerê. Mas é só isso. Na ruazinha, alguns gatos pingados sentam-se nas calçadas para falar do inverno. Lá na frente, um moço separa o feijão da casca, outro bate as bajes estendidas no chão com uma vara de marmeleiro. Cadê Marcolino, o caboclo que amava Xandu? Nem ele, nem ela. Ambos foram para o além, os filhos que ficaram não cuidaram de suas memórias e Patos virou fantasma verde, sem viço.

Aqui morou Marcolino Pereira, filho da matriarca Maria Augusta Pereira Diniz, a famosa Doninha, filha mais velha do coronel Marcolino Pereira Lima e irmã do coronelíssimo José Pereira, de Princesa. Aqui nesta casa ele viveu com Xandu, sua esposa e eterna namorada, aquela que Luiz Gonzaga imortalizou com o baião “Xanduzinha”, no qual contava o amor dos dois: “Caboclo Marcolino/tinha oito bois zebu/uma casa com varanda/dando pru norte e pru sul/seu paiol tava cheínho/de feijão e de andu/sem contar com mais uns cobres/lá no fundo do baú/Marcolino dava tudo/por um cheiro de Xandu”. Em 30 a polícia invadiu Irerê e fez Xandu refém. Marcolino cercou o povoado, meteu fogo na polícia e a briga durou três dias. Matou a metade dos meganhas e a outra escapou porque escapuliu nas capoeiras. Eis o que restou: uma casa velha, semi-abandonada, como abandonado está todo o povoado de Patos de Irerê.

Neste imenso casarão morou o Major Floro Florentino Diniz, o Senhor dos Patos. Era o homem mais rico da região. Tinha mais posses do que Zé Pereira. Graças a ele, Patos de Irerê, um microclima ao sul de Princesa, na Serra da Baixa Verde, divisor de águas da Paraíba com Pernambuco, a mais de mil metros do chão, ganhou energia elétrica antes de Princesa saber o que era isso. O major tinha usina de açucar e fábrica de vinhos. Quando casou a filha com Marcolino, conta-se que fez festa que ficou famosa em todo o sertão. Só de bois, mandou matar 21 e por muitas décadas, no sertão, as bodas de Xandu se tornaram referenciais de tempo: as coisas aconteceram antes ou depois do casamento de Xandu e Marcolino. Pois a casa do Major virou saudade, fantasma, alma penada. O mato a cercou, lá dentro ninguém entra porque os maribondos se apoderaram das dependências. A primeira coisa que o vizinho avisa ao visitante que de lá se aproxima é: “Não entre porque os maribondos lhe pegam”.

 

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5 Comentários

  • Reply Ramalho 2 de julho de 2018 at 09:52

    Que pena Tiao.As testemunhas de pedras dessa heroica história tendem a desaparecer.Pode ser que o seu grito venha salva- las.

  • Reply Angela 2 de julho de 2018 at 15:54

    A foto pequena retrata qual dos casarões? É atual ou não?
    E a foto maior é também de imóvel histórico? No telhado aparece uma antena parabólica, então
    deve ser habitada;

    Quanta História que a PB não valoriza. Lamentável!

    O clima do lugar deve ser bem agradável,. Bem que poderia ser explorado com a instalação de pousada
    ao estilo Bed/Breakfest, tão em moda.

    • Reply Tião Lucena 2 de julho de 2018 at 20:43

      A casa maior era a do major. Caiu por inteiro.A menor é a de Marcolino e Xandu. Ainda de pé.

  • Reply Humberto diniz Magalhães 27 de outubro de 2018 at 16:38

    Major floro Diniz era meu bisavô. ..que pena que o casarão está em ruinas.

  • Reply Ecoturis 15 de julho de 2019 at 21:26

    Poxa, que pena que o imóvel histórico foi ao chão. Eita Paraíba para não valorizar e conservar o seu patrimônio. =/

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